
Não está a ocorrer a transformação estrutural da economia
Uma reflexão em torno da tendência de evolução da economia nacional parece sugerir progressos consideráveis não só em termos de crescimento mas também no que refere ao desenvolvimento económico no País, traduzindo-se, fundamentalmente, no aumento da capacidade produtiva e melhorias nos aspectos relacionados com a qualidade de vida, educação, saúde, infra-estrutura, além de profundas mudanças na estrutura socioeconómica do país.
Esta percepção é particularmente reforçada pelas altas taxas de crescimento que a economia vinha apresentando antes dos sucessivos choques económicos registados ao longo dos últimos anos sendo, até certo ponto, corroborada pelas análises que têm sido invariavelmente levadas a cabo sobre a evolução e o desempenho dos processos económicos no País.
No cômputo geral, as análises convergem sobre a melhoria, ainda que a “marcar passo”, registada no padrão de vida da população, entretanto, o mesmo não se verifica no que refere ao processo transformacional da economia.
“Não existem evidências de uma transformação estrutural da economia moçambicana nas últimas três décadas”, destacou Yara Nova, economista e pesquisadora do Observatório do Meio Rural – OMR, comentando os principais resultados de um estudo desenvolvido pela organização sobre o tema.
Resultado do desenvolvimento das economias ao longo do tempo, o processo envolve uma série de metamorfoses em várias dimensões, incluindo a mudança na importância relativa das componentes da riqueza nacional, do lado da produção e das despesas que, segundo as análises feitas, ainda não são evidentes na nossa economia.
Segundo explicou, no lugar de um processo transformacional, a economia apenas experimentou uma mudança de tendência de sectores de desenvolvimento, assente, fundamentalmente, na priorização do sector primário orientado para exportação de commodities: “Quando analisamos a estrutura económica do país, verificamos uma tendência crescente de se concentrar no sector extrativista. Numa perspectiva de retenção do valor agregado na economia, pouco tem havido para dinamizar os outros sectores produtivos”, ajustou.
“Se olhamos para o nível de industrialização da economia, verificamos que ainda estamos a quem do nível de industrialização desejado”, referiu, explicando que a análise dos principais indicadores de apontam para um aprofundamento da natureza subdesenvolvida da economia catalisado pelo processo de desindustrialização que o país vem experimentando, com o crescimento dos serviços às multinacionais extractivistas de recursos naturais e agricultura, a manutenção da contribuição relativa da agricultura e a dependência dos fluxos de investimento externo.
Sem descurar do facto de tratar-se, fundamentalmente, de um processo de longo prazo exigindo, portanto, tempo para a sua maturação, a economista sustenta que o país apresenta, a está altura, condições objectivas e oportunidades concretas para embrenhar-se num processo transformacional e estruturante da sua economia.
“As condições existem, o que é necessário já é vontade política”, frisou, apontando para a necessidade de uma implementação mais efectiva de políticas consistentes, viradas para o desenvolvimento e diversificação da base económica.
A industrialização e a modernização da economia são, no seu ponto de vista, as apostas para promoção do desenvolvimento económico e a transformação estrutural da economia: “primeiro é preciso ter políticas consistentes, viradas para aquilo que é o desenvolvimento interno para posteriormente abrir-se a nível externo”, concluiu. (OE)
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