
Nova Era Para o Algodão Moçambicano: De Subsídios a Crédito Agrário Estratégico
Questões-Chave:
- O Governo deixa de subsidiar o preço do algodão na campanha 2024/2025, citando limitações orçamentais;
- Novo modelo aposta em fundo de crédito com taxa bonificada (0% a 5%) para aquisição de insumos e equipamentos;
- Preço de referência do algodão fixado em 22 meticais/kg para a primeira qualidade e 15,5 para a segunda;
- Produtores manifestam preocupação com a viabilidade da cultura com os preços actuais;
- Exportações de algodão caíram 71% no primeiro semestre de 2024, apesar do aumento no volume exportado.
Num movimento que marca uma mudança profunda na política agrícola nacional, o Governo moçambicano anunciou que deixará de subsidiar o preço do algodão na presente campanha agrária, apostando antes num fundo de crédito com juros altamente bonificados. A decisão, comunicada após negociações com os produtores e a indústria, visa preservar a viabilidade da cultura e responder aos desafios da cadeia de valor, num contexto de retração internacional e queda de receitas de exportação.
O Ministério da Agricultura, Ambiente e Pescas anunciou, em Maputo, o fim dos subsídios directos à comercialização do algodão na campanha 2024/2025. A medida resulta da indisponibilidade de fundos públicos, mas assinala também uma reorientação estratégica que privilegia mecanismos financeiros sustentáveis. Em substituição, o Governo introduz uma linha de crédito com taxa de juro zero para os produtores integrados na cadeia agroindustrial, e de até 5% para os restantes, com o objectivo de facilitar a aquisição de equipamentos e insumos agrícolas.
“Este ano não iremos subsidiar o preço, pois não existem condições. No entanto, em consenso decidimos reforçar esta cadeia de valor estratégica, mobilizando mais investimentos”, afirmou Roberto Albino, ministro da tutela.
A tabela de preços mínimos foi acordada em 22 meticais por quilograma para o algodão de primeira qualidade e 15,5 meticais para a segunda qualidade. Em comparação, a campanha anterior fixara o preço em 30 meticais/kg com subsídio governamental, que beneficiara 600 mil agricultores. A diferença tem causado apreensão entre os produtores, que consideram o novo valor insuficiente para cobrir os custos de produção.
Benilson Khenass, em representação do Fórum Nacional dos Produtores de Algodão, lamentou a redução, apontando que “o preço ideal deveria situar-se nos 30 meticais, pelo menos”, para garantir a sustentabilidade da actividade.
A quebra nos preços é influenciada pela desvalorização do algodão no mercado internacional, associada a fenómenos climáticos como o El Niño, ao recuo da produção em Cabo Delgado e ao excesso de oferta global. O preço médio da fibra caiu 4,5% em 2024, enquanto o volume exportado por Moçambique aumentou 36,2%. Contudo, as receitas de exportação desceram drasticamente: 7,6 milhões de dólares no primeiro semestre de 2024, menos 71% face ao período homólogo de 2023, segundo dados do Banco de Moçambique.
Apesar dos desafios, o sector registou um crescimento de 2% na produção anual, atingindo 24.000 toneladas. No entanto, o número ficou 40% abaixo da meta de 40 mil toneladas fixada para o período. A área cultivada, por sua vez, expandiu-se para 96.523 hectares.
Francisco Ferreira dos Santos, presidente da Associação Algodoeira de Moçambique, reafirma a importância estratégica da cultura: “O algodão tem uma cadeia de valor enorme (…) é uma cultura quase que sagrada, com efeitos catalisadores na economia e na demografia do país”.
O executivo espera que a nova linha de crédito possa estimular a modernização da agricultura e criar condições para que o sector algodoeiro retome a sua trajectória ascendente, tornando-se mais competitivo e menos dependente de apoios transitórios.
A eliminação dos subsídios ao preço do algodão em Moçambique marca uma inflexão significativa na abordagem de apoio ao sector agrícola. O sucesso da nova estratégia dependerá, em larga medida, da eficácia da linha de crédito proposta, da capacidade de reorganização dos produtores e da estabilidade dos mercados internacionais. Trata-se de um teste importante à resiliência e inovação do sector algodoeiro, que continua a ser um pilar essencial da economia rural moçambicana.
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