
Recauchutagem alivia mercado moçambicano com mais de três mil novos pneus por ano
A falta de uma indústria de pneumáticos de raiz em Moçambique obrigou o país, em 2019, a gastar cerca de USD 40 milhões para adquirir pneus em países como a China, África do Sul, Alemanha e Taiwan. No entanto, a recauchutagem de pneus tem sido vista como uma alternativa para fomentar a produção no país, sendo que anualmente mais de três mil pneus novos são lançados para o mercado de automóvel no país.
Moçambique já foi um potencial fabricante de pneus para automóveis através da antiga fábrica Mabor, que para além de comercializar no mercado nacional também exportava para Europa e muitos países africanos. Após o abandono por parte dos proprietários portugueses, o Estado assumiu a Mabor, tal como havia feito com centenas de indústrias, mas por causa do modelo de economia planificada e sem acesso ao seu principal mercado de exportação a fábrica ruiu.
Como consequência disso o país viu-se obrigado a gastar milhões de dólares por ano para importar pneus. Por exemplo, em 2019, foram desembolsados cerca de 40 milhões de dólares para adquirir pneus.
Neste sentido, estima-se que mais de 60% dos pneus existentes no mercado nacional são provenientes de países como China, África do Sul, Alemanha e Taiwan, o que irremediavelmente mostra a dependência em importações muito elevada.
Por isso, as empresas que actuam no ramo da recauchutagem de pneus em Moçambique, tal como é o caso da Tyre Corporation mostram-se pouco optimistas com a ideia de eventual instalação de uma fábrica de pneus no país.
Para o Administrador daquela empresa, sita no interior do Parque Industrial de Beleluane, na Província de Maputo, Shane Nesbitt, a falta de competitividade neste sector deve-se eminentemente à fraca economia de escala no país, que não permite com que os processos produtivos alcançassem resultados positivos com baixos custos de produção e o incremento de bens e serviços.
“Se o Governo impusesse obrigações, seria possível ter uma indústria sustentável aqui, se o governo protegesse a indústria nacional, mas existe também um problema de economia de escala, por exemplo, a Mabor produzia mil pneus por dia, enquanto que a China produz 50.000 pneus por dia”, referiu Nesbitt.
Shane Nesbitt, que já foi funcionário da Mabor em 1992, sublinha que o processo de fabrico de pneus para máquinas e camiões exige altos padrões de qualidade, informações técnicas e pessoal especializado na matéria. Neste sentido, a TYRE Corporation Moçambique tem sido uma das empresas que tem se dedicado na restauração de pneus no país.
A restauração ou, se quisermos, recauchutagem de pneus consiste no aproveitamento da estrutura resistente do pneu gasto, que esteja em boas condições de conservação, e incorporar-lhe nova borracha de piso, por forma a que este ganhe outra vida.
Horácio Manganhela, funcionário da empresa, explica por sua vez que este processo está dividido em oito etapas. A primeira consiste na avaliação: após o pneu ser recebido é feito uma limpeza e identificação por meio de seu código. De seguida, explica Manganhela, “nós temos que encher o pneu, calculamos as distãncias próprias do pneu com uma régua”. Depois desta etapa, prossegue o nosso interlocutor, “o processo desagua na raspagem do pneu para que o mesmo tenha a simetria adequada”. Após a raspagem, prossegue o nosso interlocutor, parte-se para a escoriação onde é feita a limpeza da estrutura mais uma vez e, posteriormente, o pneu vai levar a cola”, que segundo explica, vai proteger a carcaça da oxidação e também fazer com que o material de contacto entre o pneu e o piso seja eficaz. Com o novo piso de rodagem, descreve Manganhela, o material é colocado em um envelope de borracha e levado para uma roda especial chamada de autoclave, que aplica pressão e calor à carcaça. E depois, conclui Manganhela, é feita uma nova inspecção do material e, caso seja aprovado, o pneu pode ser entregue ao cliente e utilizado novamente nos veículos.
Estes métodos de transformação, entretanto, envolvem equipamentos de custos altos, com altos consumos de energia e ciclos longos de produção.
Através deste processo, o tempo de vida de utilização do pneu aumenta cerca de 40% e o pneu apresenta valor de mercado até 70% mais barato que o pneu novo.
O principal risco associado a recauchutagem de pneus verifica-se quando uma determinada empresa utiliza uma carcaça em mau estado para inserir uma nova borracha.
Entre os indícios da má qualidade, podemos citar bolhas, ondulações e piso solto, pontos que influenciam negativamente na segurança.
Refira-se que para além do Parque Industrial de Beluluane, a TYRE Corporation Moçambique tem representações na Beira e Nacala, empregando mais de 70 trabalhadores, mas pretende ainda expandir as suas representações para Palma motivado pela indústria de petróleo e gás.


















