Restrições económicas decorrentes do COVID-19 pressionam a economia moçambicana

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Moçambique é um país muito dependente de produtos importados, quer para a produção, quer para o consumo. Com a evolução do COVID-19, alguns países vêm tomando medidas que já se fazem sentir na nossa economia. A depreciação da moeda, o registo de inflação e algumas empresas num cenário de incerteza são alguns exemplos.

É importante notar que a situação já não se limita apenas nas relações comerciais entre Moçambique e China, mas os outros parceiros económicos de Moçambique também estão a ser afectados pela pandemia.

Em razão do alastramento do surto do novo coronavírus, oficialmente designado COVID-19, as perspectivas económicas globais permanecem moderadas e muito incertas. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) prevê um crescimento global de 2,4% em 2020, o que representa uma queda em relação a previsão de 2,9% feita em Novembro. Para a Organização, se o surto for mais duradouro e intenso pode derrubar essa taxa para 1,5% em 2020.

Em meio as quarentenas, fábricas fechadas e restrições generalizadas sobre mobilidade e viagens de trabalho, a OCDE sublinha que a economia global pode crescer na taxa mais baixa desde 2009. Esta é uma visão compartilhada pela Directora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, que apontou a necessidade de se registar uma recessão “pelo menos tão ruim quanto durante a crise financeira global, ou pior”, esperando-se uma recuperação em 2021.

Todavia, afirma Georgieva que “para chegar lá, é fundamental priorizar a contenção e fortalecer os sistemas de saúde em todos os lugares. Pois o impacto económico é e será severo, mas quanto mais rápido o vírus parar, mais rápida e forte será a recuperação”.

No entender do economista moçambicano Alfredo Mondlane, o esfriamento da economia mundial é decorrente não só do Covid-19, mas de vários riscos geopolíticos.

“Mesmo se o coronavírus fosse uma questão que tivéssemos a capacidade de resolver a curto prazo, há outros fundamentos económicos que precisam ser recuperados para a economia voltar a crescer este ano dentro daquilo que é o ritmo que foi programado. Portanto, este ano dificilmente veremos a economia a recuperar por causa do coronavírus e outros riscos geopolíticos que estão a surgir”, apontou Mondlane, sem optimismo.

Sectores como o turismo, a aviação comercial, desporto e mercados financeiros são frequentemente apontados como os mais afectados por essa pandemia. No sector das viagens e turismo, a pandemia de COVID-19 está a registar a perda de um milhão de postos de trabalho por dia, num catastrófico efeito dominó que resulta do vasto encerramento de hotéis, da suspensão e/ou cancelamento de voos internacionais e domésticos, da paragem das companhias de cruzeiros e das crescentes restrições impostas às viagens, alerta o Conselho Mundial das Viagens e Turismo (WTTC, sigla em inglês).

O impacto dessa pandemia a nível global ganhou proporções alarmantes que já deixou até o desporto em alerta. Tendo obrigado ao cancelamento das principais ligas das diferentes modalidades, e paira a incerteza relativamente à realização de eventos mais mediáticos, como os Jogos Olímpicos, em Tóquio, NBA, Mundial de Fórmula-1, a Liga dos Campeões, enquanto o Campeonato Europeu de futebol foi reprogramado para 2021.

Assim, como acontece com outros sectores, investidores estão preocupados com o impacto do coronavírus sobre as bolsas de valores mundiais. É que grandes mudanças nas bolsas de valores, onde participações em empresas são negociadas, podem afectar investimentos de fundos de pensão e de poupanças individuais.

“Para Moçambique talvez não podemos falar muito sobre as bolsas de valores, mas para os outros países as várias empresas estão cotadas nas bolsas de valores e é importante saber que quanto mais cotada melhor é a capacidade financeira desta empresa e pode, assim, fazer maiores investimentos na nossa economia”, esclareceu Michael Sambo, acrescentando que “a cotação dessas empresas, das grandes empresas internacionais que investem em Moçambique se estiverem a cair na Bolsa de Valores poderá também significar uma redução do investimento para a nossa economia.

No meio de tudo isso e na condição actual de interdependência entre as economias, naturalmente que com a recessão da economia mundial Moçambique não fica isolado destes impactos económicos.

“Logo, a agenda económica de Moçambique fica comprometida e obriga o país a encontrar novas soluções para investir, mais por exemplo, no turismo, na agricultura, na industrialização do próprio país e isto ia obrigar Moçambique a procurar soluções internas”, disse Alfredo Mondlane.

Todavia, o pesquisador Michael Sambo sublinha que Moçambique irá se ressentir pelas medidas e não necessariamente pelo coronavírus: “é importante notar que o impacto que esta situação poderá ter na economia de Moçambique não é pelo vírus em si mas é, principalmente, pelas medidas que serão adoptadas pelos países que tenham casos confirmados”.

Sambo, ainda, considera ser importante que os vários agentes económicos moçambicanos procurem suprir aquilo que são as necessidades de consumo internamente e comecem a produzir.

“O único grande problema dentro disto é que mudanças estruturais não acontecem repentinamente. Economicamente falando, isto é algo que geralmente tem de acontecer no médio e longo prazo, onde é possível alterar os factores de produção”, acrescentou Sambo.

Por outro lado, Sambo entende que a pandemia pode significar uma oportunidade para substituição das importações e redução da dependência externa.

“Um aspecto que é importante para os vários países, sobretudo, os países em desenvolvimento é procurar a substituição de importações, que pode trazer alguma robustez para a economia, isto é, começar a produzir mais internamente para suprir, por essa via, as necessidades internas, substituindo a necessidade constante de dependência de fontes externas para podermos prosseguir normalmente com as nossas necessidades. Então, é uma oportunidade para os agentes económicos (locais) procurarem ver fontes alternativas, por exemplo, de insumos, matéria-prima dentro do país ou ainda procurando outros parceiros dentro da região”, observou.

Importa salientar que o governo moçambicano tem adoptado um conjunto de medidas socioeconómicas para dar resposta aos possíveis efeitos negativos dessa pandemia. Mas, tendo em conta que Moçambique já é oficialmente um país com casos registados do COVID-19 e que a África do Sul declarou estado de desastre nacional e fechou-se com o mundo por 21 dias certamente que esta situação será um grande teste à economia moçambicana.

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