Reuniões do FMI e Banco Mundial terminam sem clareza sobre tarifas e deixam ambiente económico sombrio

• Enquanto Washington permanece ambíguo nas negociações comerciais, líderes financeiros globais alertam para riscos prolongados de incerteza e fraca recuperação económica;

• Nenhum acordo foi alcançado para aliviar as tarifas norte-americanas;
• Ministros de Finanças demonstram maior pessimismo do que o próprio FMI;
• Questões sobre dívida global perderam espaço face à preocupação com tarifas;
• Administração Trump critica “expansão de mandato” do FMI e Banco Mundial, mas reafirma apoio institucional;
• Clima de incerteza ameaça travar a recuperação económica mundial.

As reuniões da Primavera do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial terminaram em Washington com poucos avanços no alívio das tarifas impostas pelos EUA e com um sentimento crescente de pessimismo entre ministros das Finanças e líderes económicos globais.

Muitos ministros das Finanças e representantes comerciais que participaram nas reuniões esperavam encontrar sinais de moderação por parte da administração Trump, que lançou uma série de tarifas agressivas sobre importações de veículos, aço, alumínio e outros produtos. No entanto, saíram de Washington com mais dúvidas do que certezas.

As tentativas de reunião com o Secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, foram infrutíferas para a maioria. E mesmo os poucos encontros realizados não trouxeram garantias concretas. “Fomos simplesmente aconselhados a ser pacientes”, afirmou o ministro das Finanças da Polónia, Andrzej Domanski, referindo que a administração norte-americana minimiza os impactos das tarifas, considerando-as um “sacrifício de curto prazo para um ganho de longo prazo”. Domanski, contudo, expressou receios de que o mundo enfrente “uma dor de curto prazo e também de longo prazo”.

Apesar de negociações específicas com o Japão e a Coreia do Sul terem ocorrido, nenhum acordo substancial foi finalizado. A questão cambial, sensível para a política comercial dos EUA, deverá ser tema de futuras discussões.

O FMI, por seu turno, adoptou uma perspectiva ligeiramente menos pessimista. No seu World Economic Outlook, cortou as previsões de crescimento para a maioria dos países, mas evitou prever recessões, mesmo para economias altamente dependentes das exportações, como a China, agora sujeita a tarifas de até 145% em vários produtos.

A Directora-Geral do FMI, Kristalina Georgieva, reconheceu que o choque de incerteza pesa fortemente sobre uma economia mundial ainda fragilizada pela pandemia, pela inflação persistente e por conflitos armados. No entanto, expressou esperança de que as negociações comerciais possam ainda mitigar os riscos. “A incerteza é realmente má para os negócios. Quanto mais cedo esta nuvem for dissipada, melhor será para os lucros, para o crescimento e para a economia mundial”, afirmou Georgieva.

Entretanto, a administração Trump não poupou críticas ao FMI e ao Banco Mundial, acusando ambas as instituições de “mission creep” — uma alegada expansão indevida das suas áreas de actuação para temas além das suas missões originais. Ainda assim, Washington reafirmou o seu compromisso de apoio financeiro e institucional às duas entidades.

Com os principais desafios comerciais por resolver e o nervosismo a crescer, as reuniões terminam deixando uma sensação de que o ambiente económico global poderá deteriorar-se ainda mais caso não haja uma rápida clarificação e redução das tensões tarifárias.