
Sector de roupas usadas em África – Uma Força para o Emprego, Sustentabilidade e Desenvolvimento
O comércio de roupas usadas em África, muitas vezes relegado a um nicho informal, tem revelado um impacto socioeconómico profundo em diversas nações do continente. Segundo um estudo recente conduzido pelo economista Joseph Feyertag, o sector de roupas usadas (SHC – Second-Hand Clothing) emprega directamente mais de 1,28 milhões de pessoas em cinco países africanos, incluindo Moçambique, Angola, Malawi, Guiné-Bissau e Zâmbia. Este sector emergiu como uma solução vital para a geração de empregos, particularmente em economias predominantemente dependentes da agricultura não mecanizada.
Criação de empregos e sustento de milhões
O relatório demonstra que, em países onde as taxas de pobreza extrema permanecem elevadas, como Moçambique, o comércio de roupas usadas sustenta 6,5 empregos por cada tonelada de roupas importadas, representando até 25% do emprego no sector de serviços. Além disso, os empregos criados no sector de SHC são cruciais para a sobrevivência de famílias inteiras, estendendo seu impacto a mais de 2,5 milhões de dependentes, como destaca o estudo. Isso revela que as roupas usadas não são apenas uma mercadoria comercial, mas uma linha de vida económica para milhões de africanos.
No entanto, a natureza informal deste sector traz desafios, com a maioria dos trabalhadores desprovidos de protecção social ou contratos formais. Uma das principais recomendações do estudo é que os governos africanos promovam a “formalização desses empregos”, de modo a garantir melhores condições de trabalho e contribuir para a segurança social dos trabalhadores.
Uma fonte de receita importante para os Governos
Além da criação de emprego, o sector de roupas usadas gera mais de US$ 73,5 milhões em receitas fiscais anuais para os governos dos países estudados. Estes fundos são oriundos principalmente das tarifas sobre as importações, impostos sobre valor acrescentado (IVA) e custos de frete. Em países como Moçambique, estas receitas desempenham um papel fundamental no financiamento de serviços públicos, como a educação e saúde, áreas onde os orçamentos são tradicionalmente limitados.
A contribuição fiscal do setor reforça a sua importância não só como um motor de desenvolvimento económico, mas também como uma alternativa viável para a mobilização de recursos em nações de baixa renda. O estudo apela para que os decisores políticos repensem a sua abordagem ao comércio de roupas usadas, com o objetivo de maximizar o impacto social e económico que ele pode proporcionar.
Sustentabilidade e Economia Circular
Outro ponto chave do relatório é o papel do sector de SHC na promoção de uma “economia circular”. Ao prolongar o ciclo de vida dos têxteis, este comércio ajuda a reduzir a produção de novos materiais e a diminuição do desperdício têxtil. Com apenas 2-5% das roupas importadas a acabar em aterros sanitários, o sector demonstra ser um exemplo eficaz de como é possível reduzir os impactos ambientais ao dar uma segunda vida aos materiais.
Em termos de sustentabilidade, o estudo propõe que o sector de roupas usadas pode também ser um impulsionador de empregos verdes, especialmente em áreas como reciclagem têxtil e prolongamento da vida útil dos materiais. Este aspeto torna o setor não apenas relevante do ponto de vista económico, mas também como uma peça chave nas estratégias de combate às mudanças climáticas em África.
Desafios e oportunidades
Embora o sector de SHC tenha um impacto positivo tangível, o estudo reconhece que ele enfrenta desafios substanciais, como a falta de formalização e a competição com a indústria têxtil local. Contudo, Feyertag argumenta que o declínio da indústria têxtil africana deve-se menos ao influxo de roupas usadas e mais a questões estruturais, como a falta de investimento em infraestruturas e tecnologias e a dificuldade em competir com os produtores asiáticos de baixo custo.
O relatório conclui que, com o apoio adequado dos governos africanos e uma estratégia de desenvolvimento mais orientada, o setor de roupas usadas pode ser um catalisador para a criação de “mais empregos formais” e para a redução da pobreza no continente. Além disso, pode contribuir para o desenvolvimento de um modelo de crescimento sustentável, que concilie a geração de renda com a proteção ambiental e social.
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