PME-Export: lutar para por as PMEs a exportar

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Quando o aumento e a diversificação das exportações constituem um desiderato da economia moçambicana, surgem iniciativas que visam apoiar a superação de um dos mais importantes desafios do crescimento económico inclusivo e sustentável da economia do País. O projecto PME-Export, implementado pelo Instituto para a Promoção das Pequenas e Médias Empresas (IPEME), tem como objectivo transformar as micro, pequenas e médias empresas (MPMEs) de Moçambique em competidores viáveis no mercado internacional. Através de capacitações, subvenções e parcerias estratégicas, o programa procura resolver as dificuldades que historicamente limitam a capacidade das PMEs de exportar. Contudo, um olhar mais atento ao projecto levanta uma série de questões sobre a sua real eficácia.

Durante a entrevista com Joaquina Daniel Gumeta, Directora-Geral do IPEME, fica claro que as barreiras enfrentadas pelas MPMEs são complexas e multifacetadas. Embora o PME-Export prometa subvenções, apoio técnico e participação em feiras internacionais, a dúvida permanece: será isso suficiente para enfrentar a realidade do mercado internacional?  Gumeta menciona casos de sucesso, como a MozCarbon, que conseguiu exportar fogões ecológicos para a África do Sul e o Gana. Mas essas histórias de sucesso podem ser mais excepções do que a regra. A questão de fundo é se essas empresas conseguem manter uma trajectória de crescimento sustentável sem depender constantemente de apoios institucionais.

Joaquina Daniel Gumeta, Diretora-Geral do IPEME

Além disso, o modelo de financiamento oferecido pelo PME-Export merece ser analisado criticamente. Parcerias com instituições como o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) são apresentadas como uma solução para os problemas de capital das PMEs. No entanto, será que estas linhas de crédito realmente atendem às necessidades dessas empresas? Muitas MPMEs não possuem a estrutura para absorver os custos associados aos requisitos de financiamento, o que acaba criando uma barreira de entrada. É notório que as condições do financiamento nem sempre são adequadas ao contexto de pequenas empresas que enfrentam altos custos de produção e uma cadeia de valor ainda frágil. Assim, o PME-Export corre o risco de ser visto como um programa que oferece soluções genéricas para problemas altamente específicos e estruturais.

Outro ponto crucial é o papel das “feiras internacionais”. Embora promovam a visibilidade das empresas e a possibilidade de novos contratos, a pergunta a ser feita é: “quantas dessas empresas estão realmente preparadas para responder às exigências do mercado externo?  A participação em feiras por si só não garante sucesso. O verdadeiro desafio está na capacidade de manter uma produção consistente e de alta qualidade, algo que muitas PMEs ainda não conseguem garantir devido a limitações tecnológicas e de acesso a matéria-prima.

Finalmente, o IPEME parece estar a enfrentar um dilema. Por um lado, quer capacitar as empresas para competir no mercado global; por outro, lida com um sector empresarial que ainda luta para se manter vivo no mercado doméstico. O esforço para exportar pode estar a desviar o foco de desafios internos mais urgentes, como a formalização e a sobrevivência de curto prazo dessas empresas. Se o PME-Export não for adaptado para lidar com essas realidades, corre o risco de se tornar mais um fardo do que uma solução.

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