Declarações contraditórias entre EUA e China alimentam incerteza no comércio global

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  • Trump afirmou que negociações com a China estavam em curso;
  • Governo chinês negou existência de qualquer consulta sobre tarifas;
  • EUA anunciaram progressos também com Japão e Coreia do Sul;
  • União Europeia e outros parceiros alertam para riscos de recessão;
  • Algumas isenções tarifárias pontuais surgem como sinais tímidos de desescalada.

Enquanto Trump afirma avanços nas negociações, Pequim desmente contactos sobre tarifas, acentuando o clima de confusão e preocupação entre investidores e líderes económicos.

As tensões comerciais entre os Estados Unidos e a China entraram numa nova fase de ambiguidade e desconfiança. Declarações divergentes entre Washington e Pequim sobre o estado das negociações para aliviar a guerra tarifária aumentaram a incerteza nos mercados globais e reforçaram os receios de um abrandamento do crescimento económico mundial.

O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou em entrevista à revista TIME e, posteriormente, em declarações à imprensa, que as negociações comerciais com a China estavam activas e em progresso. Trump chegou a afirmar que teria concluído “200 acordos” que estariam prontos para finalização nas próximas três a quatro semanas.

Contudo, a resposta oficial chinesa foi contundente. Através de um comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Pequim desmentiu qualquer contacto ou negociação em curso:

“China e os EUA NÃO estão a realizar qualquer consulta ou negociação sobre tarifas. O governo dos EUA deve parar de criar confusão”, afirmou a nota oficial.

Esta troca de declarações antagónicas contribuiu para um ambiente de grande volatilidade nos mercados financeiros e para a crescente percepção de que a política tarifária de Trump, caracterizada por anúncios erráticos e recuos parciais, aumenta os riscos de uma desaceleração económica global.

Sinais contraditórios e movimentações diplomáticas

Apesar das afirmações públicas de desmentido, houve sinais de desescalada no terreno. Pequim anunciou isenções pontuais para a importação de determinados produtos norte-americanos, como vacinas, produtos farmacêuticos e alguns bens industriais, numa aparente tentativa de mitigar os efeitos das tarifas retaliatórias.

Simultaneamente, a administração Trump declarou estar próxima de fechar um acordo comercial com o Japão, considerado um “teste” para futuras negociações bilaterais, e relatou “progressos iniciais” com a Coreia do Sul, ainda que sem detalhes concretos.

No entanto, líderes financeiros globais reunidos em Washington para as reuniões da Primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial expressaram preocupação com a falta de clareza.

O Ministro das Finanças da Irlanda, Paschal Donohoe, resumiu o sentimento geral:

“Estou a sair destes encontros com uma clara noção de tudo o que está em risco — para o emprego, para o crescimento e para os padrões de vida em todo o mundo.”

Impactos nos mercados e risco sistémico

A falta de alinhamento entre as mensagens de Washington e Pequim criou instabilidade nos mercados. As bolsas norte-americanas registaram ganhos modestos, enquanto o dólar procurava recuperar depois de um período de forte desvalorização. Na Europa e na Ásia, os índices mostraram sinais de alívio cauteloso, embora persistissem receios latentes sobre a evolução do conflito comercial.

O FMI alertou que um prolongamento das tensões comerciais poderia provocar uma desaceleração económica global severa, com impacto directo no investimento, nos fluxos comerciais e na confiança dos consumidores e empresários.

Economistas avisam ainda que a manutenção de tarifas elevadas poderá traduzir-se em aumento de preços para os consumidores norte-americanos, particularmente em sectores como a indústria farmacêutica e a electrónica, e em maior pressão inflacionista.

Num cenário onde a guerra comercial entre EUA e China deveria caminhar para um desanuviamento, as declarações contraditórias apenas acentuaram a percepção de que o risco sistémico permanece elevado.

Sem sinais claros de coordenação ou progresso efectivo, o comércio internacional continua exposto a choques, incertezas e potenciais disrupções — um cenário que ameaça não apenas a trajectória da recuperação económica, mas também a estabilidade do sistema multilateral de comércio.

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