Reforçar o Pensamento Económico Nacional: O Desafio dos Próximos 50 Anos

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Faculdade de Economia da UEM celebra meio século de existência e lança apelo à autonomia intelectual e à valorização do conhecimento local

Questões-Chave:
  • Moçambique precisa de reforçar o pensamento económico nacional e construir uma visão própria de desenvolvimento;
  • A Faculdade de Economia da UEM assinala 50 anos com um apelo à autonomia intelectual e à produção de soluções endógenas;
  • Académicos e economistas defendem uma maior articulação entre universidade, governo e sector produtivo;
  • A dependência da ajuda externa é vista como um obstáculo à soberania económica e ao crescimento sustentável;
  • É urgente criar um plano nacional de gestão da ajuda e direccionar mais recursos para a investigação económica aplicada.

Moçambique precisa de reforçar o pensamento económico nacional.”
A frase, dita durante as comemorações dos 50 anos da Faculdade de Economia da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), sintetiza o sentimento dominante entre economistas e académicos: sem conhecimento endógeno e autonomia intelectual, o país continuará dependente e vulnerável.

O evento reuniu especialistas que defenderam uma nova geração de políticas económicas, sustentadas na produção de conhecimento local, na valorização da investigação e na cooperação entre o Estado, a academia e o sector produtivo.

Pensamento Económico como Pilar da Soberania

Para o economista Ângelo Mondlane, o país precisa de investir na construção de uma escola de pensamento económico própria, que dialogue com o contexto regional e global, mas que responda, antes de tudo, às realidades nacionais.

“A academia deve ser o centro de formulação e orientação de políticas que respondam aos desafios estruturais de Moçambique. Sem pensamento próprio, não há soberania económica”, afirmou.

A reflexão foi partilhada por outros participantes, que destacaram a importância de romper com modelos impostos e desenvolver teorias económicas africanas adaptadas ao contexto moçambicano — da estrutura produtiva à integração regional.

Dependência Externa e Limites do Crescimento

O economista José Chichava advertiu que a actual estrutura da ajuda externa não promove crescimento sustentável.

“A ajuda, em muitos casos, reproduz a dependência. Cerca de 60% dos fundos não permanecem no país. É preciso começar a acreditar nas nossas pessoas e estruturar o sector informal como base do empreendedorismo nacional”, declarou.

Segundo Chichava, o desenvolvimento passa pela valorização das capacidades internas e pela criação de parcerias concretas entre a academia, o governo e o sector produtivo, capazes de gerar conhecimento aplicado e inovação económica.

Orientar a Ajuda, Não Depender Dela

Para o economista Egas Daniel, o desafio não é rejeitar a ajuda internacional, mas definir uma estratégia nacional clara sobre a sua utilização.

“Grande parte da ajuda financia projectos que sofrem atrasos e limitações de execução. O objectivo não é livrar-se da ajuda, mas orientá-la para prioridades nacionais”, explicou.

Daniel defende a criação de um plano nacional de gestão da ajuda externa, com metas mensuráveis e foco em sectores de alto impacto, como a agricultura e a indústria transformadora, essenciais para diversificar a economia e gerar emprego.

A Academia e o Futuro da Economia Nacional

A Faculdade de Economia da UEM, ao celebrar meio século de existência, é chamada a liderar a renovação do pensamento económico moçambicano, investindo em investigação aplicada, capacitação docente e ligação directa ao mercado de trabalho.

Para os participantes, o futuro passa por formar economistas capazes de transformar teoria em prática, propondo soluções concretas que reduzam as dependências e consolidem a autonomia produtiva e financeira do país.

Um Novo Ciclo de Autonomia e Inovação

As comemorações dos 50 anos da Faculdade de Economia marcaram um ponto de viragem simbólico.
Mais do que uma celebração académica, foi um chamamento à acção: Moçambique precisa de pensar a sua própria economia, redefinir as suas prioridades e colocar o conhecimento no centro das decisões públicas e empresariais.

O desafio, afirmam os economistas, é transformar a reflexão em estratégia e o discurso em acção — para que o pensamento económico nacional se torne o motor de um crescimento verdadeiramente sustentável e independente.

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