África Enfrenta Oportunidade Histórica Na Transição Energética, Mas Falta Financiamento Para Transformar Potencial Em Realidade

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O continente possui 60% do melhor recurso solar do mundo, mas representa apenas 1% da capacidade instalada. A transição global abre espaço para industrialização, electrificação e novos mercados, mas exige reformas, redes e financiamento estruturado.

Questões-Chave:
  • Apenas 15% do investimento global em energia limpa chega a mercados emergentes;
  • África tem o maior potencial solar do planeta, mas mínima capacidade instalada;
  • A expansão de redes eléctricas é o maior obstáculo para industrialização e electrificação;
  • A procura por minerais críticos cria novas oportunidades económicas e riscos geopolíticos;
  • Moçambique possui condições únicas para se posicionar como actor energético regional.

A transição energética global abre uma janela estratégica para África: uma oportunidade de industrializar, expandir electrificação e monetizar recursos naturais críticos. Contudo, o relatório The State of Clean Energy, in 10 Charts mostra que o continente continua dramaticamente subfinanciado e tecnicamente limitado, com o risco de ficar para trás num dos mais importantes ciclos económicos do século. 

Potencial Energético Enorme, Aproveitamento Mínimo

África dispõe de um dos maiores potenciais energéticos renováveis do mundo. O continente concentra cerca de 60% dos melhores recursos solares, possui valiosas bacias hidroeléctricas, corredores eólicos competitivos e detém reservas significativas de minerais críticos essenciais à tecnologia limpa. Porém, este potencial não se traduz em capacidade real: África representa apenas 1% da capacidade solar instalada globalmente. Esta discrepância entre abundância de recursos e fraca capacidade instalada evidencia que o grande bloqueio não reside nos recursos, mas na ausência de financiamento, de infra-estruturas e de mecanismos estruturados para acelerar projectos energéticos. 

Redes Eléctricas Como O Principal Ponto Fraco Da Transição

O relatório mostra que, mesmo com recursos renováveis vastos, a transição africana esbarra na insuficiência estrutural das redes eléctricas. As economias emergentes precisam expandir a sua rede em mais de 150% até 2050, sob pena de continuarem incapazes de integrar nova capacidade renovável. Sem redes modernas, a electrificação rural torna-se lenta, a indústria enfrenta limitações operacionais, os projectos solares e eólicos permanecem subutilizados e a competitividade económica fica comprometida. A transição energética africana está condicionada não pela disponibilidade de sol ou vento, mas pela falta de redes capazes de transportar energia do ponto de produção ao consumo. 

Financiamento: o Maior Desequilíbrio Global

A desigualdade no fluxo de financiamento emerge como um dos maiores entraves. Os países de baixo rendimento receberam apenas 7% do investimento global em energia limpa, apesar de representarem 40% da população mundial. Esta subalocação impede avanços na electrificação, limita a modernização de infra-estruturas e restringe o desenvolvimento de sectores como baterias, armazenamento e tecnologias de eficiência energética. O défice financeiro torna-se assim um risco sistémico, bloqueando potencial económico e social em regiões onde o crescimento energético poderia ser transformacional. 

Minerais Críticos, Oportunidade Económica E Novo Tabuleiro Geopolítico

A procura por minerais críticos — como lítio, cobalto, grafite, manganês e cobre — elevou África ao centro da nova geopolítica energética. Estes recursos são hoje indispensáveis para baterias, painéis solares, veículos eléctricos e redes eléctricas inteligentes. O relatório alerta, contudo, que a valorização desta vantagem só será efectiva com mecanismos de governação robustos, gestão ambiental responsável e modelos que assegurem maior valor acrescentado local. Sem estes elementos, o continente corre o risco de repetir ciclos de extracção primária com limitado impacto no desenvolvimento industrial. 

Moçambique, com projectos de grafite de classe mundial em Cabo Delgado e reservas emergentes de lítio, está particularmente bem posicionado para beneficiar desta dinâmica.

Moçambique Entre Oportunidade E Desafio

O país apresenta uma série de vantagens comparativas relevantes para a transição energética: uma matriz fortemente hidroeléctrica, potencial solar ainda subexplorado, gás natural com potencial de actuar como energia de transição, novos projectos de minerais críticos e uma posição estratégica nos corredores logísticos regionais. Apesar destas vantagens, Moçambique enfrenta desafios semelhantes aos restantes países africanos, nomeadamente redes eléctricas insuficientes, restrições financeiras, burocracia no licenciamento e dependência de financiamento externo.

Transformar oportunidade em crescimento sustentável exigirá investimento deliberado em infra-estrutura, modernização regulatória, fortalecimento institucional e capacitação técnica, além de estratégias claras para posicionar o país como fornecedor energético regional e actor relevante no mercado global de minerais críticos.

A transição energética representa uma das maiores oportunidades económicas para África desde a industrialização tardia do século XX. Contudo, o continente — incluindo Moçambique — só converterá potencial em prosperidade caso invista em redes robustas, políticas consistentes, financiamento acessível e estratégias de valor acrescentado que transcendam a condição de exportador de recursos brutos. O futuro energético africano dependerá da capacidade de transformar recursos em desenvolvimento estruturado.

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