
África Subsahariana no Mapa Global do GNL: Potência em Potencial ou Promessa Adiada?
Destaques
- IGU destaca recursos estratégicos da região, mas aponta obstáculos persistentes à execução, financiamento e sustentabilidade dos projectos;
- África Subsaariana detém 133,3 MTPA em projectos propostos de liquefacção
- Moçambique lidera com 57,2 MTPA, mas enfrenta atrasos prolongados;
- Novas abordagens modulares e tecnológicas oferecem oportunidades de aceleração;
- A estabilidade política e a credibilidade regulatória são decisivas para atrair investimento
A África Subsaariana ocupa lugar de destaque no World LNG Report 2025 da IGU como uma das regiões com maior potencial inexplorado no sector global do Gás Natural Liquefeito (GNL). Contudo, essa promessa continua refém de desafios estruturais: instabilidade política, atrasos regulatórios, volatilidade de financiamento e crescente exigência ambiental.
Moçambique: Entre a Abundância Geológica e a Fragilidade Executiva
Com 57,2 MTPA de capacidade de liquefacção em fase de pré-FID, Moçambique apresenta o maior pipeline de projectos da região, incluindo o Mozambique LNG (12,9 MTPA) da TotalEnergies e o Rovuma LNG, recentemente redesenhado para 18 MTPA com recurso a abordagens modulares.
Ambos os projectos continuam, no entanto, condicionados: o primeiro permanece sob force majeure desde 2021, enquanto o segundo, apesar de planos ambiciosos, sofre com atrasos em decisões finais de investimento e receios em torno da viabilidade de grandes empreendimentos num mercado saturado.
Oportunidades: Infraestrutura Leve e Alianças Estratégicas
A IGU observa que a região está a adaptar-se através de soluções mais flexíveis. Projectos flutuantes (FLNG) e unidades de regaseificação flutuante (FSRU) permitem dar início a operações com custos de capital reduzidos e prazos mais curtos. O Congo e a Nigéria são exemplos onde estas soluções já estão em uso ou desenvolvimento, facilitando a entrada no mercado global de GNL sem a complexidade logística das infraestruturas terrestres.
Incertezas: Do Risco Político à Pressão Climática
A par das oportunidades, o relatório adverte para um conjunto de incertezas estruturais que ameaçam o avanço dos projectos africanos:
- A instabilidade contratual e riscos de segurança reduzem a confiança dos investidores
- O escrutínio ambiental aumenta: projectos sem estratégias claras de mitigação de emissões ou integração de tecnologia CCS têm dificuldade em atrair financiamento institucional
- A fragmentação das políticas energéticas regionais impede sinergias logísticas e comerciais
Além disso, a concorrência com produtores mais ágeis — como os Estados Unidos e o Qatar — reduz a margem de erro para países como Moçambique. O tempo tornou-se o novo activo estratégico.
O Papel da África Subsaariana na Transição Global
Apesar dos desafios, o relatório é claro: a África é parte integral do futuro energético global. A crescente procura por gás em mercados emergentes, o declínio estrutural do carvão e a intermitência das renováveis abrem espaço para que o GNL africano se torne uma fonte de transição.
Para que isso aconteça, a IGU recomenda:
- Melhoria do ambiente de investimento, com maior previsibilidade contratual e legal
- Adoção de tecnologias verdes, como CCS e integração renovável nas centrais de liquefacção
- Integração regional de infraestruturas, para reduzir custos e aumentar a escala de mercado
- Políticas activas de conteúdo local, assegurando distribuição equitativa dos benefícios
A África Subsaariana está diante de uma bifurcação estratégica: ou consolida o seu lugar na cadeia global do GNL como fornecedor competitivo, fiável e ambientalmente adaptado, ou assiste a mais um ciclo de desmobilização e adiamento. A geologia é generosa — mas é a governação que determinará o destino.
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