
BRICS+ apostam no uso de moedas locais para reduzir dependência do dólar, vai dar certo?
Os países do BRICS+ – Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Egipto, Etiópia, Emirados Árabes Unidos e Irão – intensificam esforços para transformar a forma como realizam transações comerciais internacionais. Durante a 16.ª cimeira do grupo, em Outubro de 2024, foi reafirmada a determinação em promover o uso de moedas locais no comércio entre os membros, em detrimento do Dólar americano e do Euro, que historicamente dominam o comércio global.
A proposta de adoptar moedas locais no comércio internacional entre os países Brics+ tem múltiplos benefícios. Do ponto de vista económico, reduz custos de transação e minimiza a dependência de divisas estrangeiras que, para muitas economias do Sul Global, são difíceis de acumular devido à limitação das suas exportações. Politicamente, o uso de moedas locais fortalece a soberania económica dos membros, mitigando os efeitos de sanções aplicadas por meio de sistemas controlados por países ocidentais, como o Swift. No caso de países como a Rússia, que enfrenta sanções financeiras severas devido à guerra na Ucrânia, transacionar com uma variedade de moedas permite contornar essas restrições, diversificando as opções para realizar pagamentos e proteger suas operações comerciais.
Um dos principais pilares dessa estratégia é a criação de sistemas de pagamento alternativos. Entre as iniciativas destacam-se o Brics+ Clear, plataforma própria do grupo que já conta com adesão de cerca de 160 países, e o sistema chinês de pagamentos transfronteiriços (Cross-border Inter-bank Payment System – CIPS). Estas plataformas buscam replicar a função do Swift, possibilitando comunicação segura e padronizada para transações internacionais. Entretanto, existe o risco de fragmentação do sistema global. A coexistência de várias plataformas pode aumentar custos e reduzir a eficiência, criando novos desafios para as transações internacionais.
O uso de moedas locais já é observado em várias iniciativas entre membros do Brics+ e parceiros comerciais. Um exemplo é a parceria entre Índia e Rússia, que, desde o início da guerra na Ucrânia, realizaram transações bilaterais de petróleo utilizando rupias e rublos. Contudo, a acumulação de grandes volumes de rupias pela Rússia levantou questões sobre sua utilização prática, limitando-se ao mercado indiano. A China também tem adoptado um modelo de comércio de escambo. Por exemplo, exporta maquinaria agrícola para um país africano e utiliza a moeda local para adquirir bens desse país, que são posteriormente vendidos na China. Este modelo é viável em pequena escala, mas enfrenta desafios como altos custos de coordenação e digitalização insuficiente. No sul da África, dentro da União Aduaneira da África Austral (SACU), o Rand sul-africano desempenha um papel importante no comércio transfronteiriço, oferecendo um exemplo prático de integração económica regional através de moedas locais.
Apesar das vantagens, a implementação deste sistema enfrenta desafios significativos.
A principal barreira é a falta de aceitação internacional da maioria das moedas locais, que são consideradas de uso restrito. Países que acumulam moedas de baixo valor fora de seus territórios encontram dificuldades para convertê-las em bens ou serviços úteis. Além disso, a ausência de estruturas legais, regulamentações e padrões industriais robustos pode dificultar a compatibilidade entre diferentes sistemas, aumentando custos de transação e tempo para completar pagamentos.
No campo político, existe a necessidade de um alinhamento mais forte entre os membros do Brics+ para avançar de forma coordenada. Enquanto países como a Rússia têm maior urgência em promover o uso de moedas locais, outros membros podem estar menos motivados a alterar sistemas que funcionam de maneira eficiente para eles.
A transição para um sistema de comércio baseado em moedas locais representa um passo estratégico para os Brics+ reduzirem a hegemonia do dólar e reforçarem a independência económica. No entanto, os avanços deverão ser graduais e exigirão a superação de barreiras significativas, desde a infraestrutura técnica até o alinhamento político. Os próximos anos serão cruciais para determinar o sucesso deste modelo. A viabilidade da iniciativa dependerá de como os países do Brics+ abordarão os desafios estruturais e coordenarão esforços para construir um sistema alternativo eficaz e confiável, que possa realmente desafiar o status quo do comércio internacional.
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