Economia mundial sob ameaça: riscos de recessão aumentam com impacto das tarifas impostas por Trump

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  • Sondagem da Reuters revela corte nas previsões de crescimento global para 2025 e receios de estagflação, com consequências sobre o comércio, o investimento e a estabilidade financeira;
  • 60% dos economistas consideram elevado ou muito elevado o risco de recessão global em 2025;
  • Crescimento mundial revisto em baixa de 3,0% para 2,7%;
  • 92% dos analistas consideram as tarifas prejudiciais para o sentimento empresarial;
  • O risco de estagflação global aumenta, com impacto sobre o crescimento, a inflação e o emprego;

O risco de uma recessão mundial em 2025 intensificou-se de forma significativa, na sequência da nova vaga de tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos, revela uma sondagem global conduzida pela Reuters. O crescimento económico desacelerará para 2,7%, ante os 3,0% anteriormente previstos, num ambiente de incerteza generalizada, agravamento da inflação e perda de confiança dos investidores.

A economia mundial enfrenta uma ameaça crescente de recessão este ano, precipitada pelo novo surto de políticas tarifárias dos Estados Unidos, lideradas pelo Presidente Donald Trump. De acordo com uma sondagem realizada pela Reuters entre 1 e 28 de Abril, 60% dos economistas entrevistados consideram o risco de uma recessão global elevado ou muito elevado.

O sentimento económico deteriorou-se rapidamente face à imposição de tarifas de 10% sobre todas as importações norte-americanas, com destaque para a tarifa de 145% aplicada à China, o principal parceiro comercial dos EUA. Embora algumas tarifas tenham sido temporariamente suspensas, o impacto já está bem enraizado, afectando a confiança dos mercados financeiros e os planos de investimento empresarial.

Previsões revistas em baixa e deterioração generalizada

Segundo a mesma sondagem, o crescimento mundial em 2025 foi revisto em baixa, de 3,0% para 2,7%, com 28 das 48 economias analisadas a registarem cortes nas suas previsões. Apenas 10 economias mantiveram as estimativas anteriores e outras 10, como a Argentina e a Espanha, registaram ligeiras melhorias, assentes em dinâmicas internas específicas.

Economias avançadas como o Canadá e o México sofreram revisões particularmente severas, com as previsões de crescimento a caírem para 1,2% e 0,2%, respectivamente.

“É extremamente difícil ser optimista quanto ao crescimento no actual ambiente económico”, advertiu Timothy Graf, estratega-chefe da State Street para a Europa, Médio Oriente e África.

Impacto sobre a confiança empresarial e o comércio global

A incerteza gerada pelas tarifas levou muitas empresas multinacionais a retirar ou reduzir as suas previsões de receitas, com 92% dos economistas a considerarem o impacto das tarifas negativo para o sentimento empresarial. Apenas uma minoria residual (8%), sobretudo de economistas baseados em mercados emergentes como a Índia, caracterizou o efeito como neutro.

O ambiente proteccionista compromete a capacidade de planeamento a médio prazo, um factor crítico para a continuidade dos investimentos e para a expansão do comércio internacional.

Estagflação no horizonte: o pior dos mundos económicos

Uma das consequências mais temidas pelos analistas é o risco crescente de estagflação — um cenário de baixo crescimento combinado com alta inflação e desemprego crescente.

A maioria dos economistas concorda que as tarifas são inflacionárias e prevê que mais de 65% dos principais bancos centrais não conseguirão atingir as suas metas de inflação este ano.

“Cortar relações comerciais com o maior parceiro gera efeitos muito negativos sobre os preços e, consequentemente, sobre o rendimento real das famílias e a procura agregada”, alertou Graf.

Esta deterioração simultânea da actividade económica e do poder de compra poderá complicar ainda mais a tarefa dos bancos centrais, forçados a equilibrar objectivos contraditórios de controlo da inflação e estímulo ao crescimento.

Implicações para os mercados emergentes e Moçambique

Embora o relatório da Reuters não entre em detalhe sobre mercados individuais como Moçambique, as implicações são evidentes: num ambiente global de aversão ao risco, os fluxos de investimento directo estrangeiro poderão ser afectados, o acesso a financiamento externo tornar-se-á mais caro e os preços de importação poderão aumentar, gerando novas pressões inflacionistas.

Para economias em desenvolvimento, altamente dependentes de financiamento concessionado e de mercados externos para os seus produtos, esta mudança de contexto representa um risco significativo para os esforços de crescimento, industrialização e inclusão económica.

Conclusão: incerteza prolongada e a necessidade de resiliência

O cenário traçado pelos economistas consultados pela Reuters aponta para um enfraquecimento estrutural da dinâmica de crescimento global e para um endurecimento das condições financeiras internacionais.

Mesmo que eventuais reversões nas políticas tarifárias venham a ocorrer, o dano já causado ao sistema multilateral de comércio e à confiança dos investidores poderá persistir por vários anos.

Num tal contexto, a palavra de ordem para as economias emergentes, incluindo Moçambique, será reforçar a resiliência interna, promover a diversificação económica e acelerar a implementação de reformas que fortaleçam a competitividade e a capacidade de atrair e reter investimento sustentável.

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