
OMC Mantém Esperança de que Trump Não Rompa Definitivamente com o Sistema Multilateral de Comércio
Apesar da retórica agressiva e das medidas unilaterais da administração norte-americana, a Organização Mundial do Comércio acredita que os Estados Unidos não abandonaram por completo o sistema de regras globais. O futuro da governança comercial dependerá da postura de Washington após as eleições de 2025.
- A administração de Donald Trump continua a criticar a OMC, qualificando-a de “falhada e ineficaz”, mas mantém-se envolvida em áreas estratégicas como o comércio electrónico e a moratória sobre bens digitais;
- Washington defende uma abordagem “à la carte” às regras multilaterais, escolhendo compromissos que favorecem os seus interesses, sem abandonar totalmente o sistema;
- A OMC enfrenta tensões internas e falta de consenso entre grandes potências, o que ameaça o papel da instituição como árbitro global do comércio;
- Países em desenvolvimento temem que a erosão do multilateralismo comercial reforce o proteccionismo e fragilize a previsibilidade das trocas internacionais;
- O debate sobre o papel dos Estados Unidos será central na Conferência Ministerial da OMC em 2025, onde se decidirá o futuro da moratória digital e da reforma do órgão de resolução de litígios.
A Organização Mundial do Comércio (OMC) resiste à ideia de que os Estados Unidos tenham abandonado por completo o sistema multilateral de comércio, mesmo após anos de ataques verbais e medidas unilaterais da administração Trump.
Segundo o Financial Times, a instituição com sede em Genebra mantém sinais de envolvimento por parte de Washington, interpretando-os como indícios de que a Casa Branca ainda não fechou as portas à cooperação internacional baseada em regras.
Durante o mandato de Donald Trump, a Casa Branca impôs tarifas unilaterais sobre aliados estratégicos e bloqueou o funcionamento do órgão de apelação da OMC, minando a capacidade da instituição de resolver disputas.
Ainda assim, o governo norte-americano continua a participar activamente em áreas de interesse económico directo, nomeadamente na moratória sobre o comércio electrónico — um acordo que impede a aplicação de tarifas sobre bens e serviços digitais, como software, e-books e conteúdos audiovisuais.
Este instrumento, criado em 1998 e renovado regularmente pelos membros da OMC, expira em Março de 2026, caso não seja renovado.
“Os EUA estão a adoptar uma abordagem selectiva: criticam o sistema, mas continuam à mesa onde estão em jogo os seus próprios interesses”, explicou um diplomata europeu citado pelo Financial Times.
Entre a crítica e a pragmática cooperação:
Para muitos analistas em Genebra, a abordagem norte-americana é de duplo sentido: enquanto critica as instituições multilaterais por alegada ineficácia, beneficia-se delas quando convém, sobretudo em temas tecnológicos e digitais, sectores onde as empresas norte-americanas têm vantagem competitiva global.
A directora-geral da OMC, Ngozi Okonjo-Iweala, tem procurado manter diálogo técnico e institucional com Washington, salientando que “sem os Estados Unidos, a OMC não pode cumprir plenamente o seu mandato de garantir um comércio previsível e baseado em regras”.
A organização reconhece, contudo, que as tensões políticas internas nos EUA e o crescimento do isolacionismo económico dificultam qualquer avanço estrutural.
“Não teremos a OMC dos próximos 50 anos se os Estados Unidos ficarem fora da mesa”, alertou Matthew Wilson, embaixador da Barbada junto da organização, citado pelo jornal britânico.
O impacto para os países em desenvolvimento:
A indecisão norte-americana tem repercussões globais, particularmente para as economias emergentes que dependem de um sistema comercial previsível.
Sem a liderança dos EUA e com a crescente rivalidade entre grandes blocos, o risco de fragmentação comercial e tecnológica aumenta, criando incerteza para exportadores africanos, asiáticos e latino-americanos.
Segundo o Financial Times, a ausência de consenso entre Washington, Bruxelas, Pequim e Nova Deli sobre regras digitais e subsídios industriais poderá travar a adopção de um novo quadro de compromissos multilaterais em 2025.
“A OMC corre o risco de se tornar uma plataforma de diálogo sem poder vinculativo, caso não recupere a confiança dos seus principais membros”, observou um antigo negociador da América Latina.
Próximos Desafios
A Conferência Ministerial de 2025, a realizar-se em Genebra, será um teste decisivo à sobrevivência política da OMC.
Entre os temas prioritários estarão a renovação da moratória sobre o comércio electrónico, a reforma do mecanismo de resolução de litígios e a agenda de sustentabilidade e inclusão comercial.
Diplomatas próximos da direcção da OMC admitem que sem uma mudança na política comercial dos EUA, dificilmente se restabelecerá a confiança no multilateralismo.
“O sistema precisa dos Estados Unidos — mas também de um compromisso genuíno com as regras”, sublinhou Ngozi Okonjo-Iweala durante o Fórum Público de 2025.
O futuro da OMC depende da capacidade de reconstruir pontes com Washington, demonstrando relevância num mundo onde o comércio se cruza com tecnologia, segurança e política.
Enquanto alguns temem um colapso gradual do sistema multilateral, outros acreditam que a sobrevivência da OMC reside precisamente na sua resiliência e adaptabilidade.
“A OMC não morreu — está em reconfiguração”, resume o Financial Times. “Mas o teste decisivo virá quando os Estados Unidos tiverem de escolher entre o isolacionismo político e o interesse económico global.”
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