Petróleo Recua Com Sentimento De Sobre-Oferta, Mas Sanções À Rússia Travaram Queda Maior

Os preços do petróleo voltaram a recuar esta quarta-feira, 19 de Novembro de 2025, pressionados por novos dados que apontam para um aumento significativo dos inventários de crude nos Estados Unidos, mas a descida foi limitada pelo impacto crescente das sanções norte-americanas sobre o petróleo russo e pelos riscos de disrupção causados pelos ataques ucranianos a infra-estruturas energéticas.

Mercado Penalizado Pelos Inventários: Oferta Continua A Superar Procura

O relatório semanal do American Petroleum Institute (API) confirmou aquilo que o mercado tem vindo a antecipar: a oferta de petróleo nos Estados Unidos continua a crescer mais rapidamente do que a procura. Segundo os dados revelados na noite de terça-feira, os stocks de crude subiram 4,45 milhões de barris na semana terminada a 14 de Novembro, acompanhados por aumentos de 1,55 milhões de barris nas reservas de gasolina e de 577 mil barris nos destilados.

Os estrategistas de matérias-primas do ING classificaram o relatório como “claramente baixista”, sublinhando que o volume adicional de petróleo armazenado reforça a percepção de que o mercado poderá caminhar para um novo ciclo de excedente. Ainda assim, os analistas alertam que muitos investidores continuam focados nos riscos de oferta, o que impede uma queda mais agressiva dos preços.

Brent E WTI Em Território Negativo, Mas A Queda Foi Limitada

O Brent desceu 0,2%, para 64,78 USD por barril, enquanto o WTI recuou 0,2%, para 60,65 USD, corrigindo parte dos ganhos da sessão anterior. A descida desta manhã reflecte, em grande medida, o peso dos inventários acumulados e os receios de procura moderada no curto prazo.

Contudo, o mercado permanece “range-bound”, nas palavras do analista Emril Jamil (LSEG), uma vez que a proximidade do prazo de execução das sanções norte-americanas impede uma correcção mais acentuada. A incerteza sobre o impacto logístico e comercial dessas sanções está a manter muitos compradores e traders em posição defensiva.

Sanções À Rosneft E À Lukoil Introduzem Um Novo Fator De Suporte

As sanções dos Estados Unidos às gigantes russas Rosneft e Lukoil entram numa fase crítica, com data-limite a 21 de Novembro para que empresas internacionais terminem relações comerciais com estes produtores. O Tesouro norte-americano afirmou esta segunda-feira que as medidas já reduziram significativamente a receita petrolífera russa e que, nos próximos meses, deverão provocar recuos visíveis no volume de exportações.

Este cenário está a reconfigurar parte das rotas comerciais globais: compradores da China e da Índia, tradicionalmente entre os maiores importadores de crude russo com desconto, começaram a procurar fornecedores alternativos, num movimento que ajuda a sustentar o Brent e o WTI acima de patamares de maior correcção.

Paralelamente, os ataques ucranianos a refinarias e terminais de exportação da Rússia voltaram a levantar preocupações sobre potenciais quebras na oferta de combustíveis refinados, reforçando o prémio de risco na formação de preços.

Refinação Ganha Força: Margens Do Gasóleo Em Níveis Máximos

Apesar do recuo das cotações do crude, as margens de refinação estão a subir, particularmente no mercado europeu, onde os spreads do gasóleo alcançaram esta terça-feira o nível mais alto desde Setembro de 2023.
Este aumento decorre, por um lado, das sanções que limitam o acesso ao gasóleo russo e, por outro, de paragens e operações de manutenção em algumas refinarias. O resultado é uma pressão ascendente sobre os preços dos combustíveis, mesmo num ambiente de crude mais barato.

Analistas da Haitong Futures resumem o momento de forma directa: “Os preços do crude encontram suporte no mercado forte do gasóleo, mas o excesso persistente de oferta continua a manter os investidores cautelosos quanto a ganhos adicionais.”

O Que Está Em Jogo Para Países Importadores Como Moçambique

Para Moçambique, a fotografia desta quarta-feira traduz-se em dinâmicas de duplo impacto.
Por um lado, preços internacionais mais baixos aliviam o custo de importação de combustíveis, factor crucial para a estrutura de custos do transporte, da indústria e da logística.
Por outro, margens de refinação mais elevadas e reconfigurações no comércio internacional de derivados podem impedir que a descida do barril se traduza, de imediato, em reduções robustas no mercado doméstico.

Num contexto em que o país acompanha de perto o desenvolvimento dos grandes projectos de gás na Bacia do Rovuma, a evolução deste mercado global reforça a necessidade de políticas energéticas prudentes, previsões conservadoras de preço e uma estratégia continuada de resiliência e diversificação face à volatilidade internacional.