Inflação reduz poder de compra da classe média e atinge famílias de renda
- São necessárias medidas urgentes para prevenir o agravamento nos níveis de pobreza, desigualdade e distúrbios sociais
- os salários mensais globais caíram em termos reais para menos 0,9% no primeiro semestre deste ano
- a aceleração da inflação de preços está a corroer rapidamente o valor real desses rendimentos em muitos países.
Um novo relatório da Organização Internacional do Trabalho, OIT, mostra que a crise global está a reduzir o poder de compra da classe média e a atingir particularmente as famílias de baixa renda.
A grave crise inflacionária, combinada com uma desaceleração do crescimento económico, vem causando uma queda acentuada nos salários mensais de fato em muitos países. Entre as causas do aumento dos preços estão a guerra na Ucrânia e a crise global de energia
O Relatório Global de Salários 2022-2023: o impacto da inflação e do COVID-19 nos salários e no poder de compra, estima que os salários mensais globais caíram em termos reais para menos 0,9% no primeiro semestre deste ano. É a primeira vez, neste século, que o crescimento global dos salários efetivos foi negativo.
Entre países e regiões, em média, cada trabalhador assalariado perdeu cerca de quatro semanas de salário entre 2020 e 2021, mas quando expandida para países emergentes de baixa renda, o número de semanas perdidas em salários é significativamente maior.
Em alguns casos, atinge há registos de até 40 semanas perdidas em salários, em média nesses dois anos. As mulheres, trabalhadores com baixa remuneração e os trabalhadores da economia informal perderam mais durante os anos da Covid em comparação com outros grupos e os trabalhadores assalariados do mercado de trabalho, revela o relatório da OIT.
Nos países avançados do G20, estima-se que os salários reais no primeiro semestre de 2022 tenham caído para menos 2,2%, enquanto os salários reais nos países emergentes do G20 cresceram 0,8%, 2,6% menos do que em 2019, um ano antes da pandemia de Covid-19.
Segundo a OIT, a inflação tem um impacto maior sobre empregados com baixos salários. A crise do custo de vida se soma às perdas salariais significativas para os trabalhadores e suas famílias durante a crise do Covid-19, que em muitos países teve o maior impacto nos grupos de baixa renda.
O relatório mostra que o impacto do aumento no custo de vida dos assalariados de baixa renda ocorre porque eles gastam a maior parte de sua renda disponível em bens e serviços essenciais, que geralmente sofrem maiores aumentos de preços do que itens não essenciais.
A OIT também destaca que a inflação está a afectar o poder de compra de quem ganha salário-mínimo. As estimativas mostram que, apesar dos ajustes nominais em andamento, a aceleração da inflação de preços está a corroer rapidamente o valor real desses rendimentos em muitos países.
Segundo a análise, há uma necessidade urgente de aplicar medidas políticas bem concebidas para ajudar a manter o poder de compra e os padrões de vida dos trabalhadores assalariados e suas famílias.
O ajuste adequado do salário-mínimo pode ser uma ferramenta eficaz.
Um forte diálogo social e negociação colectiva também são consideradas opções que podem ajudar a alcançar ajustes salariais adequados durante uma crise.
Outras políticas que são apontadas como podendo aliviar o impacto da crise do custo de vida nas famílias incluem medidas direccionadas a grupos específicos, como dar ajuda a famílias de baixa renda para ajudá-las a comprar bens essenciais ou reduzir os impostos sobre esses bens.
