
BRICS aproveitam oportunidade para contrariar EUA com expansão e moeda comum
- Ministros do Bloco reúnem-se na Cidade do Cabo com mais nações perfiladas para aderir;
- A África do Sul sente-se em apuros sobre uma eventual participação de Putin na cimeira.
O grupo BRICS de mercados emergentes está a aumentar a sua pretensão de ser uma maior influência global, percebendo estar perante uma oportunidade para capitalizar a fragmentação da ordem mundial para alargar as suas fileiras para além dos actuais integrantes, ou seja, Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
Os ministros das Relações Exteriores dos países do BRICS reunidos durante dois dias na Cidade do Cabo a partir desta quinta-feira, 01/06 – 02/06, serão acompanhados por contrapartes de países como Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egipto e Cazaquistão. Na agenda está a expansão, com até 19 países aspirando adesão, e o potencial estabelecimento de uma moeda comum.
O encontro, que antecede a cimeira de chefes de Estado do BRICS prevista para 22 e 24 de Agosto, em Joanesburgo, evidenciará os objectivos do bloco de se estabelecer como uma força económica e política séria. Ocorrendo em um momento de tensões crescentes entre Washington e Pequim, as negociações também devem alimentar as preocupações ocidentais de que o grupo esteja a se mover no sentido de se tornar um contrapeso aos EUA e à União Europeia.
Os membros já recusaram se juntar a organizações como o Grupo dos Seven in blaming – e sancionar – a Rússia, país dos BRICS, pela invasão a Ucrânia. Os objectivos de expansão e de uma moeda partilhada são objectivos defendidos pela China, e pelo menos dois dos países participantes na Cidade do Cabo – Irão e Cuba – estão sujeitos a sanções económicas dos EUA.
“Os BRICS adquiriram uma estatura muito importante no mundo, com muitos países em vários continentes do nosso mundo a procurarem fazer parte dele”, disse o Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, aos legisladores na Cidade do Cabo na quarta-feira, 31 de Maio. Naledi Pandor, ministra das Relações Exteriores e anfitriã da reunião, disse no mês passado que o bloco poderia ser “transformador”, representando as nações “que desejam desempenhar um papel nos assuntos mundiais, garantindo benefícios ao Sul Global”.
O Presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva é um defensor declarado, defendendo o uso de uma moeda compartilhada e despachando seu ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para participar de uma reunião do Novo Banco de Desenvolvimento, o credor com sede em Xangai criado pelos países do BRICS, para fazer lobby por assistência para a vizinha Argentina. O ministro das Relações Exteriores da Argentina deve participar da reunião do BRICS remotamente.
A protegida de Lula e presidente do banco, Dilma Rousseff, disse esta semana que o Banco de Desenvolvimento do BRICS procurava ampliar ainda mais seu quadro de membros. Bangladesh e Emirados Árabes Unidos aderiram em 2021, enquanto o Egipto se tornou membro em Fevereiro. Agora, a Arábia Saudita está a discutir a adesão.
A adesão de Riad aos BRICS reforçaria as tentativas do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman de diversificar a economia do seu país, um esforço que o aproximou muito mais da Rússia e da China nos últimos anos. A China é o cliente de petróleo mais importante do reino, enquanto depende das relações com a Rússia para ajudar a sustentar os preços do petróleo através da OPEP+.
Para a região do Golfo, a adesão aos principais blocos comerciais faz sentido à medida que os países buscam expandir os laços comerciais e se desenvolver como centros de trânsito global.
A sigla BRIC foi cunhada em 2001 por Jim O’Neill, então economista-chefe do Goldman Sachs Group Inc., para destacar as rápidas expansões económicas desses países. A África do Sul foi convidada a aderir em 2010, mas o BRICS não conseguiu fazer valer o seu peso como grupo. Isto apesar de os seus membros representarem mais de 42% da população mundial e representarem 23% do produto interno bruto global e 18% do comércio, dando crédito às exigências de mais influência.
A perspectiva de adicionar mais membros foi levantada pela primeira vez na cúpula do ano passado na China e 13 nações pediram formalmente para participar, com pelo menos outras seis manifestando interesse.
Ainda assim, embora todos os membros actuais tenham apoiado o conceito, a Índia quer que seja alcançado um acordo sobre o processo para garantir que não seja marginalizado pela China e seus aliados, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto que falaram à CNBC sob condição de anonimato. O’Neill, que é a favor da expansão do grupo, pediu critérios rigorosos sobre a adesão.
A viabilidade dos planos para uma moeda partilhada também foi recebida com algum cepticismo, nomeadamente com o Governador do banco central sul-africano, Lesetja Kganyago, a advertir que a criação de uma forma de curso legal teria provavelmente de ser acompanhada pela criação de um banco central único.
Para Robert Schrire, professor de política da Universidade do Cabo, a composição do grupo não faz sentido político ou económico, com a China e a Índia destinadas a serem rivais geopolíticas e as economias brasileira, russa e sul-africana todas dependentes das exportações de commodities, tornando-as prováveis concorrentes. Essa realidade “impede uma acção colectiva eficaz baseada em interesses comuns, e uma expansão no número de membros só tornará essas contradições básicas mais incontroláveis”, disse ele.
Mesmo a simples realização da reunião está a revelar-se um empreendimento diplomático espinhoso para a África do Sul, que já suscitou a ira dos EUA, o seu segundo maior parceiro comercial, pelos seus laços estreitos com a Rússia. Além disso, o país anfitrião será obrigado a executar um mandado de prisão emitido pelo Tribunal Penal Internacional contra o presidente russo, Vladimir Putin, por acusações relacionadas à guerra, caso ele compareça à cúpula.
A África do Sul disse esta semana que concederá imunidade diplomática aos participantes de ambas as reuniões do BRICS no que chamou de prática rotineira, embora isso não necessariamente se sobreponha ao mandado do International Criminal Court (ICC).
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