
Moçambique deverá apostar na diversificação da economia para evitar dependência do gás natural
Sector privado e especialistas alertam para a necessidade do país diversificar a economia com destaque para as áreas da agricultura e turismo, como forma de evitar dependência do gás natural.
Ao longo das próximas duas décadas, o gás natural vai representar uma parte substancial das exportações nacionais, e isto significa que sob o ponto de vista da base produtiva, a economia moçambicana poderá apresentar uma limitada diversificação ou criar dependência em relação a esta commodities tornando o país muito sujeito a volatilidade dos preços de commodities no mercado mundial.
E uma das estratégias para resolver os problemas criados pela dependência dos recursos naturais, conhecida na literatura económica como “The natural resources curse” é diversificar a economia.
Segundo um ensaio da Universidade Católica de Angola intitulado Estudos sobre a diversificação da economia angolana, a diversificação da estrutura económica e produtiva dos países tem como propósito contrariar os efeitos da doença holandesa identificado em muitos estudos e países. Consiste, como se sabe, em distorções ao nível dos preços internos de alguns factores de produção e produtos e do crowding out sobre o sector da indústria transformadora.
Neste sentido, de acordo com o presidente do Pelouro de Política Fiscal e Comércio Internacional da CTA, Kekobad Patel, o país deve apostar neste momento, antes da chegada do gás, para investir noutros sectores fundamentais, com destaque para os sectores: agrícola e do turismo que empregam a maior parte da população.

Kekobad Patel – Presidente do Pelouro de Política Fiscal e Comércio Internacional da CTA
“Não esqueçamos das outras áreas de economia do nosso país, aquela que vai resolver muitos dos problemas principalmente do emprego, efectivamente a agricultura e o turismo que vão empregar o maior número de pessoas”, apontou Patel.
Por sua vez, o economista Carlos Muianga defende que o país deve criar políticas económicas que permitam desenvolver uma base produtiva mais alargada.
“Isso depende de várias questões de decisões políticas económicas em geral, sobretudo a necessidade de tentar desenvolver uma base produtiva mais alargada”, disse Muianga.

Carlos Muianga – Economista
Acrescentando que “as condições para a tal diversificação não depende de um conjunto de decisões económicas e políticas dentro do país que podem usar a plataforma de gás como um elemento fundamental para diversificar”.
O sector agrícola é vista como uma das principais áreas na qual deve incidir a diversificação da economia, pelo facto de representar a maior parte da actividade económica do país, contribuindo com um quarto do PIB e empregando cerca de 80% da força de trabalho. Neste contexto, Andres Schipani, explica que Moçambique apresenta um enorme potencial para desenvolver o sector agrícola em escalas industriais.
O turismo é outro sector que desempenha um papel importante para o desenvolvimento económico do país, por causa de suas repercussões no desenvolvimento de infraestruturas (estradas e aeroportos), construção de hotéis e outras instalações, e da criação de emprego.
De acordo com um relatório do Fórum Económico Mundial, Moçambique está entre 10 destinos turísticos que deverão registar maior crescimento na demanda de viagens de lazer na próxima década. Neste sentido, o consultor de turismo, Zacarias Sumbana, refere que o sector apresenta muitas oportunidades de crescimento.
“O espaço aéreo já está liberalizado, já existem pessoas a serem formadas no sector do turismo, mas o que se quer é melhor organização, um planeamento mais integrado. Neste sentido o Governo já elegeu os cinco destinos prioritários”, frisou Sumbana.
Entretanto, os especialistas alertam que a diversificação económica é um processo que poderá levar muito tempo, tendo em conta o nível de incipiência da economia moçambicana.