
Salim Valá critica mito na agricultura
_É preciso desmistificar a ideia de que a agricultura é uma actividade de elevado risco, afirma o PCA da Bolsa de Valores de Moçambique, intervindo no fórum de qualidade e sustentabilidade agro-alimentar, para quem, a agricultura e agro-negócio é vital para combater a pobreza e promover crescimento económico inclusivo.
A despeito da percepção predominante, a que o PCA da BVM, classificou de “mito”, segundo a qual a agricultura comporta muitos riscos, sobretudo a de pequena e média escala, pode ser uma justificação para a pouca atenção e reduzidos investimentos nesse sector, que actualmente absorve menos de 5% do crédito comercial, Salim Valá desconstrói essa perceção, baseando-se no facto de que mais de 66% da população moçambicana viver nas áreas rurais, e dessa cifra acima de 80% depender da agricultura de pequena escala como fonte de rendimento e reprodução social, sendo o contributo do sector agrário para o PIB de cerca de 25%.
Para Valá, o esforço crítico, está na alavancagem das condições dos 4,2 milhões de agregados familiares que tem a agricultura como fonte principal de renda, cujo grau de integração no mercado é muito limitado e a base tecnológica é de tal forma baixa, que todos os indicadores relacionados com uso de sementes melhoradas, fertilizantes, pesticidas, irrigação, uso de meios mecânicos estão abaixo de 5%, referindo-se ainda a aspectos como a baixa produtividade.
Como queremos ter a modernização da agricultura, na extensão do território nacional, se o grosso dos produtores familiares produzem pouco e sem uso de insumos modernos, a qualidade é baixa, estão pouco conectados ao mercado e obtém poucos rendimentos?
A resposta dada pelo próprio autor, aponta para a necessidade da continuidade da realização de investimentos massivos e estratégicos na agricultura, no agro-negócio e na economia rural. Daí a sua dificuldade em perceber, porque razão “aquela actividade que proporciona ao Homem um dos bens mais essenciais para a sua sobrevivência, os alimentos, possa ser considerada como uma actividade de elevado risco”. “A insegurança alimentar não é um risco económico, social e político elevado para a sociedade? Insistiu Valá
Num outro desenvolvimento, Salim Valá referiu-se a bons exemplos de projectos bem-sucedidos no agro-negócio, fundamentalmente implementados com financiamento externo ou através de empresas de fomento de culturas de rendimento, como são os casos do açúcar, algodão, macadâmia, banana, castanha de caju, pera abacate, tabaco, feijão bóer, gergelim, litchi, mangas, entre outras. Esses empreendimentos são de agricultura moderna, são autênticas “ilhas de prosperidade rodeadas por um imenso mar de micro e pequenos empreendimentos de baixa produtividade”.
BVM como parte da solução para o financiamento ao agro-negócio
O PCA da BVM, lamenta o facto de apesar da agricultura ser o sector com significativa contribuição para o PIB, para o emprego e a renda das famílias, é uma área que não apresenta uma estrutura empresarial pujante, com adequada gestão e que possui uma base financeira organizada, transparente e consistente.
Provavelmente seja por isso que, sendo a BVM um mecanismo de financiamento inovador, ainda não possui nenhuma empresa deste sector cotada.
Como resposta, revelou Salim Valá, no médio prazo, a BVM pretende segmentar os mercados de bolsa, e isso preconiza a existência de segmentos de mercado específicos para a agricultura e o agro-negócio, a indústria transformadora, o turismo, as pescas, o comércio, as infra-estruturas, o sector financeiro e as “fintech”, o complexo mineral-energético (incluindo o “Oil and Gas”), as empresas do Sector Empresarial do Estado, as pequenas e médias empresas (PME), as empresas de telefonia móvel, as Sociedades Anónimas Desportivas (SAD´s), as Parcerias Público Privadas e as Concessões Empresariais, entre outras.
“Não estamos satisfeitos por até ao momento, e depois de 23 anos de funcionamento da BVM, não termos uma empresa ligada a agricultura e ao agro-negócio cotada em bolsa”, concluiu. (OE)