Castanha-de-Caju: Crescimento Mundial Alinha-se com Oportunidade Estratégica para Moçambique

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Com o mercado global da castanha-de-caju em expansão, Moçambique consolida-se como actor relevante nas exportações agrícolas, mas enfrenta o desafio de transformar volume em valor — industrializando a cadeia, diversificando mercados e garantindo sustentabilidade.

Questões-Chave:
  • O mercado global de castanha-de-caju deverá crescer de 8,5 mil milhões de dólares em 2024 para cerca de 9 mil milhões em 2025, impulsionado por novas tendências de consumo;
  • A procura mundial é sustentada por dietas saudáveis e pelo aumento da transformação industrial;
  • O fornecimento mantém-se volátil devido a factores climáticos, logísticos e de política comercial;
  • Em Moçambique, as exportações atingiram 98,2 milhões de dólares em 2024, mais 71% face ao ano anterior;
  • A produção nacional deverá crescer 23% em 2025, para cerca de 218.900 toneladas, com aumento da área de cultivo.

O mercado internacional da castanha-de-caju vive um ciclo de expansão sustentada, apoiado pelo crescimento da procura global por produtos naturais e saudáveis. Neste contexto, Moçambique surge como um dos países africanos com maior potencial de crescimento, registando aumentos expressivos na produção e nas exportações, mas ainda com um longo caminho a percorrer na captura de valor interno e na consolidação de uma cadeia produtiva competitiva.

Mercado Global em Ascensão: Saúde, Consumo e Oportunidades

A castanha-de-caju consolidou-se como uma das commodities agrícolas mais dinâmicas do comércio internacional. Relatórios do sector apontam o valor global do mercado em 8,52 mil milhões de dólares em 2024, com previsão de atingir 9,05 mil milhões em 2025, o que representa uma taxa de crescimento superior a 6% ao ano. Projecções até 2033 indicam que o mercado poderá ultrapassar os 11 mil milhões de dólares, impulsionado por novos hábitos alimentares e pela diversificação dos produtos derivados.

A tendência mundial é marcada por um duplo movimento: de um lado, a expansão do consumo de castanha ao natural e processada — motivada por dietas saudáveis e alternativas vegetais; de outro, o reforço da industrialização e da premiumização do produto em mercados como os Estados Unidos, a União Europeia e a Ásia.

Contudo, o equilíbrio entre oferta e procura permanece delicado. O abastecimento é afectado por fenómenos climáticos, custos logísticos e políticas de exportação nos principais produtores africanos e asiáticos. Além disso, flutuações cambiais e a escalada dos custos de transporte adicionam volatilidade a um mercado já sensível à variação sazonal.

Transformação e Sustentabilidade: As Novas Regras do Jogo

O futuro do sector passa, cada vez mais, pela transformação industrial e diferenciação de produtos. A castanha-de-caju deixou de ser apenas uma matéria-prima agrícola para se tornar um ingrediente valorizado em cadeias alimentares diversificadas — de snacks a leites vegetais e manteigas naturais.

Outro eixo determinante é a sustentabilidade. As grandes empresas e distribuidores internacionais exigem hoje cadeias rastreáveis, certificadas e ambientalmente responsáveis, o que pressiona os países produtores a reforçarem mecanismos de controlo, de certificação e de gestão responsável dos ecossistemas agrícolas.

Ao mesmo tempo, a diversificação geográfica dos mercados ganha peso. Embora a Índia e o Vietname continuem a dominar a transformação e o comércio mundial, novas janelas de oportunidade abrem-se em economias emergentes e em mercados de nicho que valorizam a origem, a qualidade e as práticas sustentáveis.

Moçambique em Foco: Crescimento e Retorno Recorde das Exportações

Moçambique tem protagonizado um crescimento notável no sector da castanha-de-caju. As exportações atingiram 98,2 milhões de dólares em 2024, o que representa um aumento de 71% face ao ano anterior, segundo dados oficiais. A produção, por sua vez, deverá crescer 23% na campanha 2024/25, alcançando cerca de 218.900 toneladas, apoiada pela expansão da área de cultivo para mais de 64 mil hectares.

Este desempenho reforça o papel da castanha-de-caju como um vector essencial para a diversificação das exportações agrícolas e uma âncora de rendimento rural. O sector emprega directa ou indirectamente mais de um milhão de famílias, sobretudo nas províncias de Nampula, Cabo Delgado, Zambézia e Inhambane, constituindo-se num pilar de segurança económica para milhares de agregados familiares.

Valor Acrescentado: O Elo que Falta na Cadeia Moçambicana

Apesar do desempenho notável das exportações, Moçambique continua a exportar a maior parte da castanha de caju em estado bruto, o que limita a capacidade de captura de valor dentro do país e perpetua uma dependência do processamento externo. Essa lacuna estrutural — já identificada em relatórios do Banco Mundial — traduz-se numa oportunidade perdida de industrialização, de criação de empregos locais e de maior retorno fiscal para o Estado.

O mercado global da castanha de caju, embora em franca expansão, é também altamente competitivo. Países como o Vietname, a Índia e a Costa do Marfim dominam o segmento do processamento e transformação, beneficiando de escala, tecnologia e acesso preferencial a mercados internacionais. Para Moçambique, isso significa a necessidade de ganhar eficiência, elevar padrões de qualidade e consolidar uma marca própria, capaz de competir em mercados de nicho e de valor acrescentado.

Produção Sustentável e Diversificação: O Caminho Inadiável

A sustentabilidade da produção surge como outro desafio crítico. O aumento da área cultivada e da produção requer melhor gestão de insumos, programas fitossanitários eficazes, reforço da logística e cumprimento rigoroso dos padrões internacionais de exportação. O Governo anunciou planos para tratar mais de 9,2 milhões de cajueiros contra pragas, sinal de um esforço para proteger e expandir a base produtiva nacional.

A diversificação de mercados será igualmente determinante. O sucesso exportador precisa de evoluir do volume para o valor — com maior processamento interno, certificações de origem e sustentabilidade, e uma inserção mais assertiva nos mercados premium, como a União Europeia, os Estados Unidos e a Ásia.

Da Commodity ao Vector de Desenvolvimento Rural

O crescimento da castanha-de-caju deve ser entendido não apenas como um fenómeno agrícola, mas como parte de uma estratégia económica mais ampla. Integrar este sector na agenda de industrialização rural, de criação de emprego e de redução das desigualdades regionais poderá transformar a castanha-de-caju num verdadeiro motor de desenvolvimento inclusivo, ligando directamente o campo às cadeias de valor globais.

O mercado internacional mostra que há espaço para crescer — mas também que a janela de oportunidade não será infinita. O futuro da castanha moçambicana dependerá da capacidade do país em converter a vantagem natural em vantagem competitiva: processar mais, exportar melhor e distribuir os ganhos de forma mais justa e produtiva.

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