
Reitor da ONU Alerta: IA Pode Tornar Inviáveis os Models Tradicionais de Emprego Jovem em Moçambique
O keynote do Prof. Tshilidzi Marwala marcou o Simpósio IGM 2025 ao alertar que a Inteligência Artificial está a alterar profundamente os caminhos clássicos do crescimento económico, obrigando Moçambique a repensar a sua Estratégia Nacional de Emprego e o ensino técnico-profissional.
- Moçambique enfrenta um desafio estrutural na criação de emprego para uma juventude em rápido crescimento;
- A inteligência artificial está a reconfigurar mercados de trabalho globais e a reduzir oportunidades de entrada para jovens;
- O simpósio decorre num momento crítico de formulação da Estratégia Nacional de Emprego;
- A keynote do Reitor da ONU sublinhou a urgência de reformas estruturais e modernização das competências;
- Especialistas defendem intervenção política deliberada para evitar exclusão digital e desigualdades ampliadas.
A Inteligência Artificial já está a redefinir os caminhos clássicos do crescimento económico e pode tornar inviáveis modelos tradicionais de criação de emprego jovem em Moçambique, alertou o Reitor da Universidade das Nações Unidas, Prof. Tshilidzi Marwala, no Simpósio IGM sobre Emprego realizado esta quarta-feira em Maputo. O encontro reuniu especialistas nacionais e internacionais num momento em que o Governo finaliza a Estratégia Nacional de Emprego e ajusta as prioridades do ensino técnico-profissional face à pressão das novas tecnologias.
Um debate no momento certo: juventude, tecnologia e transformação estrutural
Moçambique enfrenta uma das maiores pressões demográficas da África Subsaariana: todos os anos, um número muito elevado de jovens entra no mercado de trabalho sem que a economia formal consiga absorvê-los. Ao mesmo tempo, a Inteligência Artificial e a automação estão a alterar profundamente modelos industriais, serviços e cadeias de valor globais.
É neste contexto que se enquadra o Simpósio IGM sobre Emprego, organizado por uma parceria que envolve o Governo, a Universidade Eduardo Mondlane, a UNU-WIDER e os doadores Suécia e Suíça.
IA como aceleração de transformação económica
Na sua intervenção central, o Prof. Tshilidzi Marwala fez um diagnóstico rigoroso sobre o impacto estrutural da IA nas economias emergentes. O académico explicou a transição entre três gerações tecnológicas — preditiva, generativa e agentic AI — sublinhando que a nova vaga de sistemas autónomos já não apenas responde, mas executa tarefas complexas com mínima supervisão humana.
A combinação entre automação e inteligência artificial está a alterar profundamente os mercados de trabalho e os caminhos clássicos do crescimento económico, reduzindo a relevância de sectores que historicamente absorveram grande parte da juventude urbana, incluindo serviços administrativos, outsourcing e funções de rotina cognitiva.
Marwala alertou que, sem uma resposta estratégica, Moçambique poderá ver reduzidas as oportunidades de primeira inserção profissional para jovens qualificados, ao mesmo tempo que sectores tradicionais permanecem informais e pouco produtivos.
Desigualdade digital e riscos de exclusão estrutural
O keynote destacou igualmente que a IA funciona melhor em inglês e português, sendo pouco eficaz em línguas africanas locais. Sem intervenções políticas intencionais, esta diferença poderá criar uma nova divisão digital, ampliando desigualdades geográficas, linguísticas e socioeconómicas.
Segundo Marwala, “a IA pode ser uma força de inclusão ou exclusão”, dependendo da capacidade política do país para orientar o seu uso em favor do desenvolvimento.
Educação e formação profissional sob pressão para se reinventarem
Vários intervenientes ressaltaram a necessidade urgente de transformar o ensino técnico-profissional. A IA substitui tarefas rotineiras, mas valoriza capacidades humanas — pensamento crítico, empatia, resolução de problemas e criatividade.
Por isso, entendem que a Estratégia Nacional de Educação Técnico-Profissional terá de incorporar, designdamente, a literacia digital e competências de dadosformação modular e contínua, maior ligação ao sector privado e modelos flexíveis de aprendizagem.
Foram também discutidos caminhos para evitar que a digitalização agrave a exclusão das raparigas, dos jovens rurais e de trabalhadores informais.
Mudança do modelo de crescimento económico e pressão sobre minerais críticos
O simpósio analisou ainda como a IA está a alterar padrões globais de produção. A industrialização com mão-de-obra barata perde relevância frente à automação, e sectores antes promissores — como call centers — enfrentam hoje concorrência directa de sistemas conversacionais inteligentes.
Paralelamente, cresce a procura internacional por minerais críticos usados em tecnologias digitais e energéticas. Moçambique poderá beneficiar desse ciclo, mas os especialistas alertam que tais projectos tendem a ser altamente capital-intensivos, com fraca criação de emprego directo.
O papel do Estado: ética, governação e infra-estrutura
O simpósio enfatizou a necessidade de políticas públicas assertivas: energia fiável, conectividade, investimento em competências, modernização da administração pública e criação de ambientes regulatórios que favoreçam inovação e protecção de dados.
A IA, defendem os especialistas, deve servir a governação, a inclusão e o desenvolvimento económico — e não ampliar dependências.
Juventude como prioridade e IA como variável decisiva
O Simpósio IGM reforçou a importância de alinhar a Estratégia Nacional de Emprego com a revolução tecnológica em curso, garantindo que o país maximize oportunidades e mitigue riscos. As recomendações deverão ser incorporadas no desenho final das políticas públicas para emprego e ensino técnico-profissional.
Moçambique enfrenta uma oportunidade crítica: ou adapta as suas instituições e investe em capacidades para integrar a IA, ou arrisca-se a ver aprofundadas desigualdades e reduzidos os caminhos tradicionais de ascensão económica.
Mais notícias
-
Sistema financeiro com risco moderado
19 de Dezembro, 2022 -
País quer reduzir importação de arroz com apoio do Brasil
2 de Maio, 2023 -
Vodacom acelera para 5G
29 de Abril, 2023
Conecte-se a Nós
Economia Global
-
Ouro Prolonga Quedas Perante a Força do Dólar e a Redução das Apostas em Cortes ...
18 de Novembro, 2025
Mais Vistos
Sobre Nós
O Económico assegura a sua eficácia mediante a consolidação de uma marca única e distinta, cujo valor é a sua capacidade de gerar e disseminar conteúdos informativos e formativos de especialidade económica em termos tais que estes se traduzem em mais-valias para quem recebe, acompanha e absorve as informações veiculadas nos diferentes meios do projecto. Portanto, o Económico apresenta valências importantes para os objectivos institucionais e de negócios das empresas.
últimas notícias
-
Ouro Prolonga Quedas Perante a Força do Dólar e a Redução das Apostas em Cortes ...
18 de Novembro, 2025
Mais Acessados
-
Economia Informal: um problema ou uma solução?
16 de Agosto, 2019 -
LAM REDUZ PREÇO DE PASSAGENS EM 30%
25 de Maio, 2023
















