Transformação da BVM de IP em SA foi uma reforma de grande alcance

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  • A transformação da BVM em Sociedade Anónima vai Incrementar a base tecnológica, a governação e a rentabilidade, afirma Salim Valá

Tratou-se de uma das mais importantes medidas de politica económica tomada pelo Governo, este ano, na perspectiva de explorar as oportunidades existentes no mercado de capitais. Numa perspectiva mais abrangente, o Governo está a encetar reformas económicas que resultem na ampliação do acesso ao financiamento, no aprofundamento do engajamento económico e financeiro com o resto do mundo, contexto em que o desenvolvimento do mercados de capitais, que se pretendem,  robustos,  tais que permitam reduzir o custo do dinheiro e a dependência do financiamento bancário, bem como melhorar o acesso a financiamentos para empresas, em particular as PME´s.

Com efeito, em Abril de 2023, o Governo tomou a decisão de constituição da BVM, Sociedade Anónima (SA), através do Decreto nº 18/2023, de 28 de Abril, depois de a instituição ter estado a funcionar, durante cerca de 24 anos,  num figurino jurídico de Instituto Público (IP). h, qualifica a  transformação da BVM em Sociedade Anónima, como algo que “ficará marcado na história do mercado de capitais em Moçambique”.

Salim Valá diz tratar-se de “uma transformação profunda visando dotar a BVM de condições de funcionamento que lhe permitam responder de forma mais eficaz e eficiente às novas exigências do mercado, ampliar o processo de capitalização das empresas, proporcionando liquidez aos títulos cotados, e acompanhar as dinâmicas e melhores práticas dos merca- dos regionais e internacionais”.

O PCA realça que a transformação da BVM de IP em SA foi uma reforma de grande alcance para o mercado de capitais moçambicano, estabelecendo o marco de referência institucional para o crescimento sustentável do mercado em Moçambique, e para propiciar uma maior interligação com outras praças financeiras. Na prática, resulta de uma tendência mundial visando a abertura do capital das Bolsas de Valores, de derivados e de mercadorias, em linha com o reforço e reposicionamento institucional e a confiança nas soluções do mercado, na integridade e na transparência.

A desmutualização significa que uma Bolsa de Valores mutuamente detida é convertida numa empresa detida pelos accionistas, ou seja, é um processo jurídico pelo qual títulos patrimoniais das empresas são convertidos em acções, envolvendo a transformação de uma instituição sem fins lucrativos em uma empresa que visa o lucro. A propriedade, gestão e negociação estão separadas e estão em mãos diferentes, isto é, a gestão da Bolsa é separada dos accionistas e dos corretores. As Bolsas de Valores detidas pelos membros tendem a trabalhar apenas para o interesse dos membros, o que pode, por vezes, ser prejudicial para os direitos de outras partes interessadas, explicou Salim Valá

Salim Valá, Presidente do Conselho de Administração da Bolsa de Valores de Moçambique

“A separação de funções entre accionistas, gestores e corretores pode conduzir a uma abordagem equilibrada, eliminar conflitos de interesses, criar uma maior responsabilização de gestão e ter em conta o interesse de outros intervenientes. Há uma tendência generalizada de transformar as Bolsas de Valores em empresas de capital aberto, contribuindo para aproximar mais as Bolsas das em- presas e investidores, adoptando uma forte perspectiva comercial, promovendo uma melhor governação e favorecendo a sua rentabilidade. É essa a perspectiva que a BVM SA está apostada em seguir”, acrescentou.

Sob ponto de vista de perspectivas para o 2º Semestre de 2023, Salim Valá diz que a recuperação económica em Moçambique poderá prosseguir apoiando-se nos projectos do gás natural liquefeito (GNL), na agricultura, turismo, transportes e comunicações, energia e construção, e embora as perspectivas permaneçam positivas, os riscos e incertezas persistirão, principalmente devido a projecções de inflação, pressão sobre as finanças públicas e os efeitos dos eventos climáticos extremos, bem como o prolonga- mento do conflito no Leste Europeu, volatilidade dos mercados financeiros e do preço das matérias-primas no mercado internacional.

“Os próximos dois anos não serão ‘tempos fabulosos’ nem serão ‘momentos económicos fáceis e livres de obstáculos’, pelo contrário, serão de muitos desafios, mas que incorporam no seu seio, um mar de oportunidades”, vaticinou o PCA da BVM, para quem, uma BVM mais forte e empreendedora, com modernas tecnologias, com novos e inovadores instrumentos financeiros, com melhor governação e gestão, poderá contornar mais facilmente os constrangimentos no seu percurso, servir melhor os empresários e os investidores, e ser mais ética e rentável.

Convidado pelo O.Económico a fazer o balanco intercalar do desempenho da BVM, o PCA, destacou que no 1º semestre de 2023, os segmentos de mercado accionista e obrigacionista tiveram um bom desempenho, com o mercado accionista a contar com mais uma empresa, a Mozambique Weiyue International Holding, S.A, por via de uma admissão directa de 750.000 acções no Terceiro Mercado, elevando para 13 o número de empresas cotadas.

Os dados da BVM indicam que, no primeiro Semestre de 2023, o mercado bolsista realizou um volume de transacções de 13.933,05 Milhões de MT, representado um crescimento em 112,93%, quando comparado ao período homólogo de 2022, que teve um volume de transacções de 6.543,50 milhões de MT.

A Capitalização Bolsista alcançou 175.351,98 Milhões de Meticais, representando um crescimento em 34,51%, quando comparado ao período homólogo, que foi de 130.364,85 Milhões de Meticais.

O indicador de liquidez do mercado (“turnover”) apresentou também uma tendência crescente, tendo alcançado 7,95%, isto é, um crescimento em 2,9 pontos percentuais comparativamente ao período homólogo de 2022, que foi de 5,02%. A Central de Valores Mobiliários (CVM) efectuou o registo de 12 títulos, representando uma realização 60% de um total de 20 planificados para o ano 2023.

Não obstante o esforço empreendido pela BVM e de todos os actores do ecossistema do mercado de capitais, ser um “efectivo barómetro da economia moçambicana” não depende apenas da boa vontade, reconhece Salim Valá, que diz que o alcance do desiderato passa pela melhoria do ambiente e do relançamento económico que se projecta para os próximos anos, dinâmica na qua, acredita, “a BVM vai-se assumir como um instrumento para o empoderamento económico das empresas e dos cidadãos e um catalisador positivo visando a popularização do capital em Moçambique”.

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