Seca Histórica e Restrição Hídrica Impõem Contração na Produção Hidroeléctrica e Exportações de Electricidade

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Questões-Chave:
  • A albufeira de Cahora Bassa opera com cerca de 24% de capacidade activa, caracterizando a pior situação hidrológica em 40 anos;
  • A produção hídrica nacional — dominada pela HCB — deverá recuar 4,1% em 2025, o que pressiona exportações e receitas;
  • Exportações de energia elétrica caíram 34% até Março de 2025, para US$ 104,3 milhões, face ao mesmo período de 2024;
  • A HCB está a executar manutenções programadas nos geradores, agravando o impacto da seca no ciclo hidrológico;
  • Para compensar a quebra hídrica, a produção térmica e a capacidade solar serão reforçadas, mas com custos e limitações;
  • Projetos futuros de reabilitação da HCB e expansão, como meta para 2034, visam mitigar estes choques hídricos.

Moçambique enfrenta um dos momentos mais críticos de sua história energética: a grave escassez de água na bacia do Zambeze reduziu significativamente a produção hidroeléctrica da Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB), derrubando receitas de exportação em mais de 30 % e forçando o país a recorrer com maior intensidade à produção térmica para atender consumo interno e compromissos regionais.

Situação Hidrológica Dramática

Segundo o setor energético e especialistas, a albufeira de Cahora Bassa opera atualmente com apenas 24% da capacidade activa, uma condição classificada como a pior seca das últimas quatro décadas. Essa restrição hídrica reduz drasticamente o volume de infiltração e as afluências que alimentam os geradores hidroeléctricos, limitando a geração de potência e obrigando à adoção de planos de gestão rígidos.

Em Janeiro de 2025, houve uma ligeira recuperação nas afluências, com um pico observado de cerca de 4.000 m³/s em 30 de Janeiro, o que elevou a média para cerca de 1.585 m³/s. No entanto, essa melhoria é pontual face à tendência geral de seca regional persistente que se estende desde o ano hidrológico de 2023/24. 

Impacto na Produção e Exportação

A HCB responde por uma parcela dominante da produção hidroeléctrica nacional — cerca de 78,7 % da estrutura de exportação — tornando-se particularmente vulnerável a falhas no ciclo hídrico. As manutenções programadas nos geradores, necessárias para garantir a operacionalidade futura, agravam o efeito da seca, reduzindo ainda mais a capacidade de geração. 

Os resultados já são visíveis. No primeiro trimestre de 2025, as receitas de exportação de energia caíram 34 %, para US$ 104,3 milhões, ante US$ 158,6 milhões no mesmo período de 2024. A produção hídrica como um todo deverá recuar 4,1 % neste ano, enquanto as centrais térmicas devem aumentar a produção em 17,6 %, principalmente a central CTRG a gás natural.

Projeções apontam que Moçambique produzirá 19.197,8 GWh de energia elétrica em 2025, dos quais 15.504,4 GWh são garantidos pela HCB — um decréscimo de 4,1 % face a 2024 e o valor mais baixo dos últimos quatro anos. 

Estratégias de Mitigação e Futuro

Para mitigar as perdas, a HCB planeja reabilitações do parque gerador, intervenções estruturais e melhorias operacionais para garantir maior resiliência em futuros ciclos secos. O PCA da HCB, Tomás Matola, projeta que a empresa possa atingir uma capacidade de 4.000 MW até 2034.

Além disso, o governo e as autoridades setoriais têm enfatizado a necessidade de diversificação da matriz energética, apoiando usinas térmicas e solares para aliviar a dependência exclusiva do regime hídrico. 

Apesar da seca severa, a HCB anunciou que a albufeira registou uma recuperação em termos de armazenamento em Janeiro de 2025, graças a medidas de gestão hidrológica adotadas desde 2024. 

Riscos e Desafios

A intensidade da seca impõe riscos de apagões, restrições de exportação e aumento de custos na produção térmica de substituição. A dependência da produção hídrica torna o sistema energético vulnerável às variações climáticas.

Adicionalmente, o equilíbrio entre manutenção e produção exige decisões delicadas: parar equipamentos para manutenção implica menor geração no curto prazo, mas negligenciar manutenção aumenta o risco de falhas catastróficas no médio prazo.

Para Moçambique, o cenário exige planejamento estratégico e investimentos robustos, não apenas em geração, mas na gestão integrada de bacias de água, monitoramento hidrológico e adaptação às mudanças climáticas.

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