PMI de Moçambique regista pior contração desde 2020: empresas enfrentam crise pós-eleitoral

0
373

O sector privado moçambicano encerrou 2024 com uma das maiores contrações registadas nos últimos anos, refletindo o impacto direto das tensões pós-eleitorais no ambiente económico. O índice PMI (Purchasing Managers’ Index), elaborado pelo Standard Bank, caiu para 46,4 em Dezembro, marcando o nível mais baixo desde Agosto de 2020. O valor, significativamente abaixo do limiar de 50, que indica crescimento, revela uma deterioração generalizada das condições de negócios.

Impactos dos Protestos e Greves

A crise política que eclodiu após as eleições gerais de Outubro continua a abalar o tecido económico do país. Segundo o relatório, os protestos e greves generalizadas contribuíram para um declínio acentuado na produção, novas encomendas e atividade de aquisição. As empresas enfrentam dificuldades não apenas devido à redução da procura, mas também pela interrupção das cadeias de abastecimento, agravada pelo encerramento de fronteiras.

Os dados apontam que a procura dos clientes diminuiu ao ritmo mais rápido em mais de quatro anos e meio, com reduções generalizadas em todos os setores monitorizados, incluindo agricultura, construção e serviços. Este cenário forçou muitas empresas a cortar custos, reduzir aquisições e operar com inventários mínimos.

Cortes no emprego e redução de custos

A contração económica também resultou em uma ligeira diminuição do emprego no setor privado. Empresas relataram dificuldades em recrutar durante os protestos, enquanto muitas optaram por manter níveis de pessoal reduzidos para conter despesas. Apesar disso, os custos salariais permaneceram relativamente estáveis ao longo do último trimestre de 2024.

A pressão pela contenção de custos levou a uma redução acentuada nos preços médios de aquisição e nos custos gerais de produção, o que, por sua vez, permitiu às empresas ajustar ligeiramente os preços de venda. No entanto, a queda dos preços foi mais pronunciada nos setores secundário e de serviços, enquanto a agricultura e o comércio por grosso e a retalho registaram aumentos.

Projecções para 2025 e desafios futuros

O economista-chefe do Standard Bank, Fáusio Mussá, comentou que os efeitos da instabilidade política e económica pós-eleitoral são evidentes nas previsões de crescimento do PIB. As estimativas foram revistas para baixo, apontando um crescimento de apenas 2,5% em 2024 e 3% em 2025, contra 5,4% registados em 2023. Os protestos, combinados com eventos climáticos adversos, como o ciclone tropical Chido, que atingiu o norte do país, colocam desafios adicionais ao crescimento económico.

Entre os principais riscos para 2025 estão as pressões inflacionárias, os desequilíbrios cambiais e fiscais e a insegurança persistente em regiões como Cabo Delgado. Além disso, os atrasos nos investimentos em projetos-chave de gás natural liquefeito continuam a limitar o potencial de recuperação económica.

Luz no fim do túnel?

Apesar do agravamento da situação, o relatório destaca uma ligeira melhoria no otimismo das empresas quanto ao futuro. Algumas empresas manifestaram expectativas de condições económicas mais favoráveis e planos para expandir a produção ao longo de 2025. Contudo, o sentimento geral permanece um dos mais baixos dos últimos quatro anos.

O declínio contínuo do PMI reforça a necessidade de medidas urgentes para estabilizar a economia moçambicana. A resolução das tensões políticas e a implementação de políticas económicas robustas serão cruciais para restaurar a confiança empresarial e fomentar a recuperação sustentável no médio prazo.

SUBSCREVA O.ECONÓMICO REPORT
Aceito que a minha informação pessoal seja transferida para MailChimp ( mais informação )
Subscreva O.Económico Report e fique a par do essencial e relevante sobre a dinâmica da economia e das empresas em Moçambique
Não gostamos de spam. O seu endereço de correio electrónico não será vendido ou partilhado com mais ninguém.